05/07/2010

1963: uma série que marcou época e virou história (I).


Entre 1984 e 1989, com as séries Monstro do Pântano, Watchmen e Miracleman, Alan Moore ajudou a revolucionar os quadrinhos de super-heróis. Mas, depois de muito sucesso e de uma aclamação pública poucas vezes vista por um autor de quadrinhos, ele decidiu se afastar das grandes editoras (principalmente devido aos problemas legais com a Marvel, em torno da utilização do nome Marvelman, e às desavenças contratuais com a DC Comics, acerca dos direitos de publicação de suas obras). Além disso, o roteirista jurou jamais voltar às HQs de super-heróis, que considerava então um gênero esgotado. A partir daí, ele passou a se dedicar a trabalhos mais autorais e pessoais, como as histórias em capítulos para a publicação independente Taboo (na qual surgiram From Hell e Lost Girls) e graphic novels especiais (como Brought to Light e A Small Killing).

Aproveitando o renome internacional e estimulado por outros editores independentes (como Dave Sim da série Cerebus), Moore decidiu montar sua própria editora. Nascia então a Mad Love, na qual o roteirista tinha como sócias sua esposa, Phyllis, e a namorada dos dois, Debbie. Pela editora, eles lançaram a revista especial AARGH (“Artistas Contra Agressiva Homofobia Governamental”), coletânea destinada a angariar recursos para serem usados contra uma proposta de lei do governo Margaret Thatcher. Em seguida, veio a série Big Numbers que contava com a fantástica arte de Bill Sienkiewicz, mas que enfrentou imensos (e ainda misteriosos) problemas, sendo interrompida em seu segundo número. Toda a confusão envolvida na interrupção de Big Numbers levou não apenas ao rompimento entre Moore e Sienkiewicz, mas também ao fim de seu casamento a três e à falência de sua editora.

Enfrentando problemas pessoais e financeiros, o roteirista não teve muita escolha, a não ser voltar atrás com sua palavra, retornando ao gênero dos super-heróis. Era 1992 e, na época, a Image Comics representava uma alternativa às gigantes do mercado norte-americano (Marvel e DC Comics), além de ser uma promessa de liberdade criativa (ou mesmo de dinheiro fácil). O primeiro contrato assinado por Moore com a nova editora foi a controversa minissérie 1963 (que também ficaria inacabada e levaria a outro rompimento pessoal). Tudo começou com o convite do quadrinista Jim Valentino para que Moore escrevesse uma edição de sua série Shadowhawk (um dos muitos clones do Wolverine surgidos na época). Moore não se interessou pelo trabalho, mas como contraproposta apresentou, junto com os desenhistas Steve Bissette e Rick Veitch, a proposta para o que viria ser a minissérie 1963.

Toda a concepção desse projeto não pode ser separada do histórico pessoal e do momento que Moore vivia. Tendo rompido “definitivamente” com a Marvel e a DC, o roteirista viu na Image a chance de retornar às lucrativas HQs de super-heróis, sem ter que se associar novamente àquelas editoras. Além disso, ele estava muito descontente com o efeito negativo que suas obras tiveram sobre as revistas de super-heróis, que se tornavam então cada vez mais violentas e cínicas. Assim, embora considerasse que havia feito sua “declaração final” sobre os super-heróis em Watchmen e Miracleman: Olympus, o projeto para a Image tornou-se uma forma de contribuir com a nova editora na disputa contra as duas gigantes do mercado e, ao mesmo tempo, de combater os efeitos negativos do “realismo” dos anos 80. A resposta criativa de Moore veio na forma de seis edições inspiradas nos quadrinhos Marvel do início dos anos 60.

(CONTINUA)

6 comentários:

Diego Aguiar Vieira disse...

Opa! li apenas duas ou três edições de 1963, e achei um projeto interessante. Gostei também da entrevista do Bissete pro seu blog sobre o assunto.

Wellington Srbek disse...

Olá Diego,
1963 foi importante naquele momento (1993) por apontar novos rumos para os quadrinhos de super-heróis, então atolados na "fase Image". Na próxima postagem darei mais detalhes sobre as edições da minissérie. Tenho as seis edições e a que gosto mais é Horus.
Abraço!

Do Vale disse...

Cara, acho que tinha os scans, mas nunca li...
Albion é dessa época?

Wellington Srbek disse...

Olá Do Vale,
Não, Albion é bem mais recente, embora possa ser considerada uma espécie de derivação de 1963 e Watchmen - por trazer personagens do passado ficcionais.
Abraço!

Lillo Parra disse...

Ôpa!Vou aguardar a outra postagem. Não conhecia a série e os detalhes que vc está dando tem clima de roteiro policial com direito a teoria da conspiração.
Abraços e no aguardo.

Wellington Srbek disse...

Rapaz, não foi a intenção, mas você tem razão quanto a essa possibilidade de leitura. Acho que criei um suspensezinho mesmo...
A parte final estará no blog daqui a alguns dias!