01/08/2009

Quadrinhos independentes em entrevista, parte1.


Mais uma entrevista no Mais Quadrinhos e desta vez o entrevistado sou eu mesmo! Há alguns meses, a jornalista Lídia Basoli, que participa da revista Café Espacial, entrou em contato comigo para uma entrevista / artigo sobre o movimento de quadrinhos em BH. A matéria saiu neste sábado no informativo do 4° Mundo e aproveito então para reproduzir, nesta e numa próxima postagem, as questões de nossa entrevista. Obrigado a Lídia pela oportunidade de falar sobre meus trabalhos e minha trajetória; e boa leitura a todos!

Você começou a ler e fazer quadrinhos quando era criança. Quais os personagens que mais lhe influenciaram?

Na verdade, eu já não era criança. Tinha 11 anos quando criei minha primeira HQ. Mas só comecei a colecionar e ler quadrinhos aos 12. Naquela época, as primeiras influências de personagens que tive foram de coisas como X-Men e Vingadores.

A idéia do Estúdio HQ surgiu em 1997 em forma de associação de quadrinistas. Como você vê essas associações / coletivos como o próprio 4° Mundo hoje?

A idéia para o Estúdio HQ surgiu bem antes de 1997. Lembro-me de uma reunião que participei com o Erick Azevedo, o Fabiano Barroso e o Piero Bagnariol ainda no início daquela década. Acho que o Erick e o Fabiano trabalharam na Solar n°7, lançada em 1996, já como uma participação do Estúdio HQ. Bom, eu vejo essas iniciativas como uma forma de os quadrinistas independentes somarem forças visando a um objetivo comum. Neste sentido, elas sempre podem trazer bons resultados.

Com certeza, a falta de apoio faz com que editoras e quadrinistas se tornem "independentes" buscando um novo espaço de divulgação. Como você avalia essa situação em BH e no Brasil?

A situação hoje é melhor do que quando comecei, pois há mais pessoas e revistas no Brasil produzindo quadrinhos independentes. Mas faltaria ainda buscar um amadurecimento maior dos trabalhos, pois não se preocupar com a qualidade desde o início é um erro (e eu só digo isso porque já li afirmações em contrário publicadas em espaços ligados ao 4° Mundo). Se um leitor der chance a uma revista independente e encontrar ali um trabalho muito ruim, possivelmente ele não dará uma segunda chance à produção independente. De qualquer forma, tenho convicção hoje de que a saída para os quadrinhos brasileiros não está na produção independente.

Parece que sem a Lei Municipal de incentivo à cultura haveria muito mais dificuldade para a produção dos quadrinhos. Essas leis realmente suprem essa carência de apoio ou não?

Bom, desde 2002 eu não publico nenhuma revista ou álbum através de leis de incentivo. Então, não acho que as leis sejam indispensáveis.

E o tão famigerado eixo Rio-São Paulo para os quadrinhos? Você sente que houve uma diferença de atitude dos anos 1990 para cá?

Uma vez eu li numa revista de outro estado alguém falando do eixo “Rio-São Paulo-Minas” que atrapalharia a produção nacional. Na época eu dei uma risada porque Minas não faz parte de qualquer eixo (do mal ou do bem). Há o FIQ que acontece aqui a cada dois anos, mas isto é outro caso. Tudo que foi feito em termos de produção de quadrinhos aqui, desde os anos 90, foi feito por iniciativa de pessoas como eu, o pessoal da Graffiti, do extinto Estúdio HQ e do antigo Estúdio Big Jack, entre outros. O que acontece é que a maior parte das editoras que publicam quadrinhos está no Rio de Janeiro ou em São Paulo, e isso faz uma grande diferença, em termos de acesso aos editores.

A influência do cenário quadrinístico de BH para o Brasil é notória, ainda mais depois da grande explosão que foram os anos de 1990. Como estão e quem são os independentes de BH hoje?

Tem eu que estou meio que parando, o incansável Lacarmélio (Celton), o pessoal da Graffiti que ampliou seu trabalho, e mais umas duas ou três pessoas que lançam trabalhos de vez em quando. Há também o pessoal que trabalha com tiras, como a Chantal, o João Marcos e o Cleuber (este de vez em quando). Se esqueci de alguém, peço desculpas!

Fale sua opinião sobre o trabalho do Celton (Lacarmélio de Araújo).

O Lacarmélio é um lutador, uma das pessoas que produzem quadrinhos independentes há mais tempo no Brasil. Uma figura realmente ímpar e quase folclórica, que conseguiu fazer de seus quadrinhos sua vida e que praticamente se identificou com seu personagem Celton.

Outros nomes famosos dos quadrinhos de BH são Cleuber Cristiano com as maravilhosas tiras do Arroz Integral, Luciano Irrthum com um traço pra lá de ácido e o grande Nilson Azevedo. Há ainda uma boa produção? Quais outros artistas de BH que você admira?

Quando falamos de “artistas de BH” o ideal seria dizermos “artistas mineiros”, pois muitos como o Nilson não foram criados aqui. Além do próprio Nilson, com quem aprendi muito sobre a arte dos quadrinhos, temos por aqui artistas geniais como o Marcelo Lelis, o João Batista Melado e o Guga Schultze, além do Cleuber, do Irrthum, da Chantal e do João Marcos. Acho que este seria o primeiro time dos quadrinhos por aqui atualmente.

(CONTINUA)

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