12/07/2009
A Liga Extraordinária de Alan Moore e Kevin O’Neill.
Lançada em 1999 pelo selo Wildstorm da DC Comics, a Linha ABC apresentou novas séries e personagens criados por Alan Moore. Ao lado das revistas regulares Tom Strong, Promethea, Tomorrow Stories e Top Ten, a nova linha de quadrinhos trouxe uma criação à parte: The League of Extraordinary Gentlemen. Publicada como uma minissérie em seis edições, a nova HQ desenhada por Kevin O’Neill trazia uma espécie de “Liga da Justiça da Era Vitoriana”. Um testemunho da genialidade de Alan Moore, a idéia básica para A Liga Extraordinária é incrivelmente simples: substituir os super-heróis tradicionais por personagens saídos da literatura fantástica de fins do século 19.
As raízes para a criação de A Liga Extraordinária estendem-se pelo menos até 1989, quando Moore começou a produzir duas séries para a antologia Taboo de Steve Bissette: From Hell e Lost Girls (ambas concluídas recentemente). Tratando-se de dois dos trabalhos mais extensos e complexos já feitos pelo roteirista inglês, essas HQs certamente demandaram uma grande pesquisa contextual. Ambientadas entre as décadas de 1880 e 1910, a primeira série mostra os assassinatos cometidos por Jack o estripador, enquanto a outra traz aventuras eróticas com as personagens literárias Alice, Doroty e Wendy. Não fica difícil imaginar que toda a pesquisa para From Hell e algumas das idéias de Lost Girls tenham influenciado a criação de A Liga Extraordinária.
A Liga reunida por Moore e O”Neill tinha como integrantes Mina Murray (de Drácula), Allan Quatermain (de As Minas do Rei Salomão), Capitão Nemo (de 20.000 Léguas Submarinas), o Homem Invisível (do livro homônimo), Doutor Jeckyll e Mr. Hyde (de O Médico e o Monstro). A HQ contou ainda com participações especiais e pequenas aparições, como no caso de Sherlock Holmes e Professor Moriarty (saídos das histórias de mistério do detetive mais famoso do mundo). Completavam ainda as revistas um texto ilustrado, protagonizado por Allan Quatermain e outras personagens literárias. Misturando citações e explosões, pesquisa e intriga, a minissérie fez sucesso, merecendo uma continuação (já enunciada em sua última página).
Entre meados de 2002 e 2003, foram publicados os seis números de The League of Extraordinary Gentlemen: Volume II. Dessa vez, no lugar de maquiavélicos vilões e terríveis chineses, a ameaça foram maquiavélicos e terríveis marcianos (saídos das páginas de A Guerra dos Mundos). Novamente, capítulos de um texto ilustrado completaram as edições da minissérie. Uma obra-prima dos quadrinhos de aventura fantástica, a segunda aventura da Liga Extraordinária foi ainda melhor que a anterior, sendo uma mistura perfeita de ação e conteúdo literário (além de uma das melhores adaptações já feitas para o clássico de H.G. Wells). Ao final da história, porém, entre mortos e feridos nem todos se salvaram e a própria Liga saiu praticamente desmantelada.
Mas nada de tão ruim poderia ocorrer à liga de heróis reunida por Moore e O’Neill do que uma horrorosa versão hollywoodiana! Uma das piores adaptações de quadrinhos já feitas para o cinema, o filme estrelado por Sean Connery rendeu ainda chateações judiciais para Moore, acusado de criar sua HQ para acobertar o suposto plágio de um roteiro de cinema (episódio que motivou o rompimento do roteirista com a DC Comics e sua exigência de total desassociação das produções cinematográficas que se façam a partir de suas criações). Ganhando reedições encadernadas e também publicações luxuosas em absolute edition, os dois primeiros volumes de A Liga Extraordinária são partes complementares de uma história maior: as aventuras da formação vitoriana do grupo.
Como descobrimos já nas primeiras edições, no passado houve outras formações da Liga, que remontaria aos tempos de William Shakespeare (o mago Próspero seria o responsável pela fundação do grupo). Além disso, como se descobre nas edições mais recentes (The Black Dossier e Century: 1910), houve outras formações da Liga após os desastrosos eventos da invasão alienígena de 1898. Segundo declarou Moore, as aventuras do grupo e de seus personagens poderão ser contadas ainda por muitos anos, potencialmente abarcando todo o universo ficcional. Mas mesmo desconsiderando os lançamentos mais recentes e os que venham futuramente, os dois primeiros volumes de A Liga Extraordinária já merecem um lugar na história dos quadrinhos e da literatura!
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16 comentários:
Pô, A Liga é mesmo muito legal, bem construida e só poderia vir de um cara como o Moore.
Infelizmente ainda falta publicarem, no mínimo, o Black Dossier, além do Century, que iniciou agora.
Tenho elas em inglês, mas ler o Black Dossier no original é um desafio daqueles. Ele mistura muitos estilos de escrita.
Parabéns pelo blog, sempre dou uma olhada nele.
Só atualizando: Falta publicar aqui no Brasil a continuação.
A Devir disse que iria traduzir o Black Dossier mas até agora nada.
E os dois primeiros volumes agora estão com a Panini, que já anunciou que já republicar em formato absolute.
Olá Guilherme,
A Liga Extraordinária é mesmo um quadrinho muito bacana! Especialmente o Volume I e o Volume II (meu preferido). Já em Black Dossier e Century fica claro que Moore está mais interessado em jogar o jogo intertextual e metalinguístico. Mas ainda assim são trabalhos muitíssimo interessantes.
Abraço e valeu pela participação!
Atualizando também, Guilherme: a Devir provavelmente não deverá publicar mais nada da Liga, pois os direitos todos devem ter passado para a Panini.
Mas enquanto não vêm as edições brasileiras, Century: 1910 será o tema da próxima postagem (que estou escrevendo por agora) e Black Dossier o tema de um texto futuro (quando eu tiver tempo de ler aquele calhamaço multimidiático).
Abraços!
Nem li o post inteiro e explico. Infelizmente eu fui burro e não comprei as duas edições quando estavam disponíveis e só tenho a primeira. A Panini agora pode me salvar lançando as versões absolute e poderia fazer como o Cavaleiro das Trevas e lançar tudo num volume único (não sei se serão separados por contrato ou pra ganhar mais dinheiro).
Opa, então já estou na espera.
Você não aprecia nada dos indies, tipo Chris Ware? Ou outros que fazem trabalhos na Vertigo mas não são tão conhecidos por aqui, como o Jeff Lemire e Kyle Baker?
Abraços.
Olá Amalio,
Rapaz, eu acho que teria tudo a ver os Volumes I e II serem lançados juntos em capa-dura, mas acho que a Panini não fará isso pelos dois motivos que você citou.
Mas pode ler a postagem inteira: creio que não atrapalharei sua leitura depois.
Abraços!
Gosto de todo o tipo de quadrinhos, Guilherme. Basta ter qualidade!
Mas, por falta de tempo, aqui no blog dou preferência aos autores mais conhecidos, que interessarão a mais leitores.
Abraços!
Li o texto e reamente não atrapalhará minha leitura. Bem lembrado, o filme da Liga é uma verdadeira atrocidade, não só com os quadrinhos, mas com o cinema em si. Até quando o Sean Connery será indestrutível nos filmes? Aliás, uma caracterização nada a ver, totalmente inversa à dos quadrinhos. Tom Sawyer e o Nautilos são as piores adaptações desta adaptação. O único que se salva é o ator que interpretou o Capitão Nemo.
Uai, você até conseguiu achar algo que salva naquele filme, Amalio! Embora, pelo que me recordo, o Capitão Nemo tem uns lances meio kung-fu no filme, que não têm a ver com a monolito de frieza dos quadrinhos.
Não deixe de passar aqui no blog amanhã para ler minha resenha de Century: 1910.
E não deixe de voltar na sexta para ler a primeira parte de minha entrevista com um brilhante artista britânico, parceiro de Alan Moore numa obra-prima dos quadrinhos de heróis (não é o Dave Gibbons, pois este eu já entrevistei).
Abraços!
Garry Leach ou Alan Davis?
Adoraria tê-los entrevistado, Amalio, mas não é nem um, nem outro!
David Lloyd? Ou o próprio O'Neill (se considerarmos A Liga com quadrinho de herói).
Adoraria ler uma entrevista com o Eddie Campbell. Ele ficou famoso desenhando o From Hell, mas tem outros excelentes trabalhos que não são conhecidos em terras tupiniquins. Além disso, a Top Shelf vai lançar uma nova obra dele em setembro, se não em engano. Vai se chamar ALEC.
Incrivelmente, Guilherme, não é nenhum dos três que você citou! O David Lloyd inclusive eu já até entrevistei aqui pro blog (clique no marcador ENTREVISTAS pra conferir!).
O Kevin O'Neill e o Eddie Campbell estão nos meus planos, mas não foram eles que entrevistei agora.
Abraços!
É verdade mesmo. Não lembrei que já tinhas entrevistado o Lloyd.
Adorei a entrevista com o J.H. Williams III.
Legal que tenha gostado da entrevista com o J.H. Williams III. Ele foi um dos primeiros que entrevistei aqui pro blog e acho essa uma das melhores.
Abraços!
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