10/05/2009

Os X-Men de Warren Ellis e Simone Bianchi.


Devido ao sucesso dos filmes e a algumas boas HQs produzidas por autores como os escoceses Grant Morrison e Frank Quitely, na última década os X-Men voltaram ao primeiro plano dos quadrinhos. Com o lançamento em 2004 da série Astonishing X-Men, criada pelos norte-americanos Joss Whedon e John Cassaday, a Marvel consolidou um modelo editorial que soma qualidade autoral e bons resultados comerciais. Como estava pré-determinado, após vinte e quatro edições e um especial elogiados pelo público e pela crítica, os autores deixaram a revista em 2008, abrindo caminho para o inglês Warren Ellis e o italiano Simone Bianchi. Contudo, famosos por trabalhos bastante peculiares, os novos responsáveis pela Astonishing X-Men talvez não consigam agradar tão unanimemente quanto seus antecessores.

Estreando na Astonishing X-Men n°25, Ellis e Bianchi deverão trabalhar no mesmo modelo editorial que a Marvel adotou para a primeira fase da revista. A fórmula é contratar autores renomados para produzirem uma série limitada que dará origem a coletâneas em capa cartonada com seis capítulos cada, que depois ganharão reedições em capa-dura com doze capítulos, sendo que mais tarde tudo será reunido num único calhamaço com centenas de páginas (a omnibus edition). Mas, desta vez, a fórmula pode não funcionar tão bem, já que a Marvel reuniu numa mesma série comercial dois autores com trabalhos marcantemente pessoais. Isso é o que vemos nas primeiras páginas produzidas pela dupla, que não repetem o caráter mais clássico da fase anterior, baseando-se em temas recorrentes e num estilo pessoal inconfundível.

Na primeira página de Astonishing X-Men n°25, uma nota editorial anuncia: “Uma nova era na história mutante começou. Com sua antiga base destruída, os X-Men transferiram-se para São Francisco na esperança de estabelecer um novo refúgio para sua raça. Com os mutantes agora reduzidos a poucas centenas, o líder dos X-Men, Ciclope, está determinado a proteger essa frágil comunidade por quaisquer meios necessários”. O que vemos a seguir, no entanto, não é nada tão dramático: Wolverine dormindo numa árvore, Fera cantarolando, a nova x-man Armadura reclamando de seu codinome, Ciclope e Emma Frost acordando juntos, a chegada de Tempestade... Sucedem-se então questões acerca da qualidade do café, diálogos cheios de implicâncias e cinismo, explicações sobre a nova estratégia de atuação do grupo...

Quando a revista está caminhando para o fim, finalmente os X-Men entram (quase) em ação, ao serem chamados pela polícia local para auxiliar na investigação de um assassinato envolvendo mutantes. Ellis ainda tem espaço para uma de suas explicações para-científicas, antes de encerrar seu primeiro roteiro para a série anunciando uma trama envolvendo (de novo) naves e tecnologia alienígenas. E é exatamente isso (e um pouco mais de ação) o que vemos em Astonishing X-Men n°26, quando acompanhamos os X-Men numa viagem a um “cemitério de espaçonaves”, onde o mutante assassino se encontra. É introduzido aí o elemento que dá título a esses capítulos: “Ghost Box”, um poderoso aparato de origem extradimensional (sim, novamente Ellis apresentará uma trama envolvendo viagens e conflitos no “multiverso”).

Em Astonishing X-Men n°27, os heróis mutantes estão de volta à base em São Francisco, onde temos mais diálogos ácidos e explicações para-científicas. Mas como os X-Men de Ellis não “esquentam cadeira”, logo partimos numa viagem até uma misteriosa região da China. Em Astonishing X-Men n°28, exploramos a cidade celestial dos mutantes chineses, onde são dadas algumas explicações sobre genética extradimensional. Para agradar aos leitores, o roteirista concede aos X-Men alguma ação contra mutantes locais, adicionando uma peça ao mistério: o nome de um ex-x-man que andava fora de circulação há algum tempo. Surpreendentemente, isso é quase tudo que vemos nos quatro capítulos iniciais de “Ghost Box”. Assim, no conjunto, as primeiras histórias de Ellis para os X-Men deixam a sensação de muita conversa para pouca história.

Se temáticas e idéias emprestadas de outros trabalhos dão base a “Ghost Box”, o elemento marcante das HQs são as páginas criadas pelo desenhista Simone Bianchi, em parceria com outros artistas italianos. No traço de Bianchi, todos os personagens ganharam novas feições e caracterizações incrivelmente detalhadas (embora nem sempre agradáveis). Refletindo-se nas composições de página e divisões de quadros, o visual privilegia sobreposições e diagonais, elementos decorativos e uma narrativa oblíqua. Áreas em branco e recortes, sombras em aguada e cores mais apagadas dão um tom frio às páginas, combinando com o tema da história. Com tudo isso, as imagens criadas por Bianchi & Cia. são visualmente impressionantes, mas um tanto estáticas, destoando do dinamismo que se espera de uma revista dos X-Men.

Com um estilo tão elaborado e trabalhoso, parece que Bianchi e seus colaboradores não conseguiram acompanhar a periodicidade mensal da série. Para compensar, a Marvel lançou a minissérie em duas edições Astonishing X-Men: Ghost Boxes, escrita por Ellis e ilustrada por diferentes desenhistas (trazendo apenas capas de Bianchi). Com duas histórias de oito páginas em cada edição, além dos roteiros originais e de reproduções das páginas a lápis, a minissérie mostra acontecimentos em quatro Terras diferentes. Na primeira história, vemos o trabalho dos veteranos Alan Davis e Mark Farmer, numa HQ centrada no mutante assassino que apareceu em Astonishing X-Men n°26. As três histórias seguintes têm artistas menos conhecidos e são narradas na perspectiva de três diferentes X-Men (Emma, Ciclope e Armadura).

A primeira história curta de Ghost Boxes, com sua temática dos universos paralelos, tem um gostinho da Captain Britain que Davis produziu para a Marvel nos anos 80. Já as HQs seguintes, ilustradas por Adi Granov, Clayton Crain e Kaare Andrews, têm um visual mais sombrio e um tom pós-apocalíptico. No geral, sem diálogos cínicos e tendo roteiros mais concisos, o trabalho de Ellis nas duas edições da minissérie é até mais interessante do que na série regular (mas vale, é claro, aguardar a conclusão de seu primeiro conjunto de seis histórias para chegarmos a um veredicto definitivo). O quinto capítulo de “Ghost Box” já foi lançado nos Estados Unidos em Astonishing X-Men n°29, estando o capítulo final programado para junho. Esta nova fase dos heróis mutantes deverá chegar ao Brasil em breve nas páginas de X-Men Extra da Panini.

6 comentários:

Amalio Damas disse...

Eu não li, portanto não posso opinar efetivamente, mas essa coisa de visitar outros locais e descobrir fatos estranhos, me lembrou muito Planetay.

Zé Wellington disse...

Estou lendo o trabalho do Whedon e estou achando bem bacana. O Morrison é o Morrison, e suas histórias intrincadas são sempre bem vindas. O Ellis não fica atrás, mas prefiro ele com personagens mais realistas...

Wellington Srbek disse...

Uai, mas este é um dos motivos para existirem páginas de crítica de quadrinhos como esta: para os leitores se informarem sobre um trabalho antes de lê-lo.
Mas sim, Amálio, é Planetary e Authority "all over again"...
Abraço!

Wellington Srbek disse...

Olá Zé,
Acho que um grande defeito do Ellis é a repetição. Ele é sem dúvida um roteirista talentoso, mas se repete muito, reutiliza demais os mesmos conceitos.
Abraço!

Leandro disse...

conheço algumas coisas do Ellis, e qt mais conheço mais gosto.
a fase do Morrison nao curti muito nao.
ja o Whedon ja é classico.
li as duas primeira revistas da nova fase e achei muito lento mesmo. Vc descreveu muito bem Wellington, inclusive os problemas da historia. É torcer para melhorar.
abç

Wellington Srbek disse...

Olá Leandro,
O Ellis tem coisas brilhantes como Planetary e outras que deixam a desejar. Mas realmente não sei se tem muita salvação para o primeiro "arco" dele à frente da Astonishing X-Men. Vamos ver se realmente melhora depois.
Ainda não li a fase inteira do Morrison e do Whedon para os X-Men, mas faz parte de meus planos para futuras postagens.
Grande abraço e valeu pela participação!