04/05/2009

O melhor dos X-Men no cinema.


Lançados em 1963 pela Marvel Comics, os X-Men tornariam-se nas décadas seguintes o grupo de super-heróis mais popular e rentável dos quadrinhos. Tanto que, além de dar origem a toda uma linha de revistas de heróis mutantes nos anos 80, os X-Men ganharam uma série de animação nos anos 90 (cujas principais consequências foram tornar Wolverine um personagem amplamente conhecido e ensinar aos leitores brasileiros a correta pronúncia do nome do grupo, uma vez que até então nós falávamos “xis-mem”). Com a crescente popularidade entre os leitores de quadrinhos e o público da série de animação, a idéia de um filme para o cinema seria algo quase natural. Assim, após alguns anos de produção e meses de muita expectativa por parte dos fãs, em julho de 2000 estreou X-Men – O Filme, sucesso de bilheteria que inaugurou a atual onda de adaptações de HQs para o cinema.

Dirigido por Bryan Singer, X-Men – O Filme seguiu alguns dos elementos de Superman – O Filme, a melhor adaptação cinematográfica de super-heróis já feita (não é mera coincidência que o diretor do longa de 1978, Richard Donner, seja um dos produtores executivos da produção de 2000). Como o filme que lhe serviu de exemplo, o longa dos X-Men pôde contar com um diretor que entendia o projeto, atores consagrados que lhe davam lastro e protagonistas relativamente desconhecidos que se adequavam bem a seus papéis. Embora Tempestade e Ciclope pareçam meros elementos decorativos, por sua vez Professor Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Sir Ian McKellen), Wolverine (Hugh Jackman) e Vampira (Anna Paquin) não deixam a desejar. E se Jean Grey e Homem-de-Gelo parecem deslocados, Mística e Dente-de-Sabre são ótimas surpresas, superando em muito suas versões quadrinísticas.

Ao lado de boas atuações e caracterizações, a maior qualidade de X-Men – O Filme é o respeito pelos quadrinhos, em sua tentativa de uma abordagem realista do tema (tratado na verdade como uma história de ficção científica). Há é claro algumas alterações (como as roupas de couro preto que causaram controvérsia entre os fãs), algumas liberdades (como a relação afetiva entre Wolverine e Vampira, que nas HQs acontecia entre Logan e Kitty Pryde) e alguns excessos (como o aparelho que funciona à base de eletromagnetismo, emitindo uma radiação que origina poderes mutantes). Além disso, os mesmos efeitos visuais de ponta que permitiram a existência de um filme com muitos vôos, rajadas óticas e garras retráteis, mostram suas limitações em vários momentos, comprometendo a verossimilhança das cenas. Há também problemas com as sequências de luta demasiadamente coreográficas.

Contando com a consultoria de Stan Lee, o roteiro de X-Men – O Filme tem falhas, mas é eficiente em apresentar a temática da perseguição e do preconceito sofridos pelos mutantes. E se nos quadrinhos a identificação dos mutantes com minorias raciais, sexuais ou religiosas é um traço importante, num filme voltado a um público mais amplo esse fato é ressaltado. Logo, não é por menos que a primeira cena se passa num campo de extermínio nazista, ou que o ator Ian McKellen tenha sido convencido por Bryan Singer de que uma história com super-heróis podia servir de metáfora para o preconceito contra os homossexuais. Mensagens à parte, o filme tem alguns ótimos momentos, como as três cenas em que Professor Xavier e Magneto se contrapõem (no senado, em frente à estação de trem e na cela de plástico) ou as três sequências principais com Wolverine e Vampira (na estrada, na Mansão-X e no vagão de trem).

Disponíveis na versão para DVD X-Men 1.5, as cenas cortadas mostram que a história era ainda mais centrada em Vampira. Contudo, na versão para os cinemas, parece ter se buscado um equilíbrio entre os personagens (que acabou não sendo alcançado). A Tempestade Halle Berry, por exemplo, não tinha muito o que fazer com poucas cenas relevantes e uma ridícula peruca branca. Por sua vez, os intérpretes de Ciclope (James Marsden) e Jean Grey (Famke Hanssen) deixam claro, nos extras do DVD, que não tinham conhecimento ou muito respeito pelos quadrinhos que inspiraram seu trabalho. Já o Wolverine Hugh Jackman é um caso completamente diferente, pois (embora não conhecesse de antemão seu personagem) o ator mostrou empolgação desde o início, sendo perfeito no papel que mudaria sua carreira. Para completar, há o duelo entre Patrick Stewart e Ian McKellen, que acrescenta qualidade ao filme.

Ao ser exibido em 2000, X-Men – O Filme deixou uma sensação de algo que ficou pela metade, de uma adaptação que não é ruim, mas que poderia ter sido muito melhor. Felizmente, o sucesso de bilheteria garantiu uma continuação, que se tornaria a melhor versão dos heróis da Marvel já feita para o cinema. Lançado em maio de 2003, também dirigido por Bryan Singer e contando com o mesmo elenco de base, X-Men 2 tem todas as virtudes do primeiro filme, corrigindo seus principais erros. Uma produção bem mais madura, essa continuação traz um roteiro muito melhor, efeitos especiais e visuais impecáveis, cenários e figurinos ainda mais convincentes e até mesmo uma música-tema mais empolgante. Começando por sua primeira cena, o filme provou que tinha vindo para agradar: numa sequência fantástica, Noturno invade a Casa Branca, dá uma surra nos seguranças e quase mata o presidente.

A seguir, novos vilões são introduzidos e temos um ataque à Mansão-X, com direito a garras retalhadoras e novos poderes mutantes. O público também descobre um pouco mais sobre o nebuloso passado de Wolverine (nos moldes da HQ Arma-X de Barry Windsor-Smith). Halle Berry (depois de um Globo de Ouro e um Oscar) ganhou mais importância e um cabelo menos falso (e o que parece estranho é o cabelo de Wolverine nas cenas que Hugh Jackman teve que filmar quando já protagonizava o filme Van Helsing). Como até Ciclope e Jean Grey estão mais convincentes, todos os X-Men principais têm o devido espaço na continuação, não faltando ainda momentos relevantes para Homem-de-Gelo, Pyro, Vampira ou até Colossus. Isso sem falar na vilã Mística, que volta para exibir suas perícias acrobáticas e marciais nos belos contornos da modelo e atriz Rebecca Romjin-Stamos. Professor-X e Magneto retornam perfeitos.

X-Men 2 é indiscutivelmente um filme superior ao primeiro, tendo até o efeito de “melhorar” X-Men – O Filme (eu, por exemplo, tenho hoje uma opinião bem mais favorável do que a que tive ao sair do cinema em 2000). Além disso, as produções cinematográficas influenciaram os quadrinhos dos heróis mutantes na época, estabelecendo uma identidade com o que Grant Morrison fazia em New X-Men e servindo de base para o trabalho de Mark Millar em Ultimate X-Men. Com o sucesso de público das duas primeiras produções cinematográficas, era grande a expectativa por um terceiro filme, no qual Bryan Singer & Cia. pudessem completar sua “saga”. Em entrevistas, diretor e produtores chegaram a falar de suas idéias para a terceira parte da trilogia. Mas então um “S” e muitos dólares entraram no caminho, e Bryan Singer trocou os “filhos do átomo” pelo “filho de Krypton”. E sem o competente diretor, X-Men 3 acabou sendo algo lastimável!

10 comentários:

Amalio Damas disse...

Concordo com você. Acredito que o primeiro X-Men não foi tão exuberante pois a Marvel e a Fox estavam aguardando a resposta do público para poderem investir mais e aí soltaram a verba para o segundo filme. Além disso, o sucesso de X-Men abriu as portas para as outras produções da Marvel como Homem-Aranha e Quarteto Fantástico, porém teve o efeito colateral que todo sucesso gera e tivemos também Demolidor, Elektra, Motoqueiro Fantasma e Homem Coisa, esse último feito apenas para lavagem de dinheiro (só consigo pensar nesta possibilidade para justificar a produção desta coisa, que chamaram de filme.)

Wellington Srbek disse...

Olá Amálio,
Eh, não devemos nos esquecer de que X-Men foi o primeiro filme da Marvel a ser bem feito e, como eu digo na postagem, o que iniciou a atual onda de filmes de super-heróis. O problema, como você mesmo disse, foi a exploração comercial que começou já com coisas como Elektra e continua com Wolverine.
Grande abraço!

Renata disse...

Eu aqui de novo... Nossa... o que dizer... vc já falou tudo! Tá, a Tempestade ficou com cara de traveco depois da meia-noite... mas o Wolverine... meu, não consigo imaginar outro ator fazendo esse papel! O cara encarnou verdadeiramente o personagem.
Fui assistir ao Filme "Wolverine" nesse fim de semana... apesar de eu esperar mais, a atuação de Hugh é impecável!
Sei lá... é isso...

A gente se vê!

Abraços!!!
//(^_^)\\

Wellington Srbek disse...

Olá Renata,
Acho que vou escrever sobre X-Men 3 e Wolverine a seguir. Mas, provavelmente não serão palavras muito elogiosas.
Abraço!

QUEIROZ disse...

Eu ainda acho que O filme dos X-men é o 1.°, pelo desconforto da Vampira, que no 3.° filme se tornou algo ridículo, o fato de Wolverine ser um desencontrado no grupo, os debates ideológicos entre o Prof.X e Magneto, inclusive aquele final com eles debatendo na mesa de xadrex que achei prá lá de elegante. Acho que o 2.° é um filmaço, mas estranho o fato deles terem levado eles para aquele estaleiro, achei que tirou muito da verassidade, e uma cena que acho a melhor do filme é aquela em que o filho do Striker confronta tempestade e o noturno, acho bem quadrinhos. Só que quando muda o foco de mutantes para humanos, a não ser que tivesse no cinema uma máquina para fazer a gente sentir dor de cabeça tb.rsrs, aquela cena ficou meio nhen, o que não ocorreria se eles estivesse em um centro urbano daria um impacto melhor.

Valeu Welligton.

Wellington Srbek disse...

Desta história toda, Queiroz, só lamento mesmo que o Bryan Singer não tenha dirigido o terceiro filme, pois poderia completar sua história para os X-Men com tempo, recursos e tudo mais.
Abraço!

Cine África disse...

Estou muito curiosa sobre os extras que você comentou, assim que tiver a oportunidade pretendo alugar os DVDs. Inclusive porque depois das resenhas sobre adaptações cinematográficas fiquei morrendo de vontade de ver/rever tudo... Mas até que eu faça isso, continuo preferindo o primeiro filme!

Obrigada pela resenha!

Aline disse...

Wellington, encontrei aqui em casa uma revistinha sobre quadrinhos/mangás que estava guardada há muito tempo e nem sei como arranjei, chamada Comix (é da Editora Escala, de São Paulo). Encontrei nela uma matéria muito legal, pena que só tem duas páginas e não é assinada... Fala sobre os quadrinhos de um herói brasileiro chamado "Raio Negro", criado por Gedeone Malagola em 66! Ele era piloto da FAB e combatia forças extra-terrestres (tudo a ver com o contexto de ditadura e guerra fria!). Parece que teve 13 edições, rendo que o último relançamento foi em 89. Fiquei muitíssimo curiosa! Você conhece algo sobre ele? Se quiser, eu te mostro a revista!

Wellington Srbek disse...

Olá Aline,
Legal que a resenha tenha causado este efeito! Eu revi os filmes para escrever este texto e realmente são bons. Uma coisa inusitada é que para ver todos os extras que valem a pena é preciso assistir às duas versões de X-Men - O Filme: a simples (com um disco) e a 1.5 (com dois discos), pois há extras relevantes que exitem numa, mas não na outra.
Beijo!

Wellington Srbek disse...

Olá de novo, Aline! Conheço o Raio Negro. Ele foi um dos primeiros super-heróis brasileiros. E há sim esta ligação com a Ditadura. Em termos técnicos, as revistas dele eram um pouco fracas, além do fato de o personagem ter uma forte inspiração no Lanterna Verde e no Ciclope. Mas, apesar disso, ele tem um apelo pop bem legal. Uma editora independente de São Paulo está relançando as HQs dele.
Beijo!