08/08/2008

Nilson, o criador de A Caravela, completa 60 anos.


Veterano dos quadrinhos e cartuns, Nilson Azevedo costuma se definir como sendo “o cartunista anônimo mais famoso de Belo Horizonte”. Criado na pacata Raul Soares (MG), o filho da Dona Aracy publicou seus primeiros desenhos em 1967, pelas mãos de Ziraldo, no Cartum JS (o suplemento humorístico do Jornal dos Sports). O sucesso de público veio no início dos anos 70, com a série de tiras e HQs do Negrim, publicada no jornal Estado de Minas. Em seguida, ele foi para São Paulo, onde trabalhou ao lado de Henfil, publicando charges e quadrinhos em jornais alternativos e também na Folha de São Paulo. Nas duas últimas décadas, sua principal atuação tem sido na imprensa sindical e também na produção de cartilhas educativas.

Grande conhecedor dos quadrinhos e incentivador de novos quadrinistas (como este que vos escreve), Nilson produziu várias séries de tiras e HQs (como Pery a Perigo e Pingo de Gente), mas talvez sua criação mais elaborada seja A Caravela. Para homenageá-lo neste dia em que completa sessenta anos de vida, publico a seguir meu texto de apresentação para a coletânea de tiras lançada pela Marca de Fantasia. A Nilson, então, nossos parabéns e um muito obrigado!

Muita coisa pode ser dita sobre a série de tiras e histórias em quadrinhos A Caravela. Antes de mais nada, deve-se dizer que se trata de um quadrinho da melhor qualidade. Sendo parte de um projeto iniciado há três décadas e ainda em andamento, essa “aventura marítima” se passa em pleno Oceano Atlântico, por volta de 1530. A bordo da caravela Flor do Lácio e na companhia de sua tripulação de nobres, militares, clérigos e marinheiros, somos levados numa viagem que tem como destino incerto o Novo Mundo, ou o fundo do mar (e que também nos leva a interpretar A Caravela como uma alegoria social que faz jus à tradição crítica do humor jornalístico).

Como toda história, a das “Grandes Navegações” é feita de pequenos fatos, um punhado de mentiras, diversas versões, várias lacunas e alguns esquecimentos. Nos livros de História, ao lado de nomes como Colombo, Vasco da Gama ou Cabral, pouco se diz sobre os milhares de marinheiros que “ajudaram” a fazer aquela história. Por sorte, nas tirinhas de Nilson podemos conhecer alguns desses anônimos personagens, como Joaquim e Manuel que, embora sejam ficcionais, em muitos sentidos, são menos fictícios que vários dos figurões que pululam nos manuais escolares (o que faz de A Caravela uma autêntica paródia histórica).

Transformando-se ao longo das mais de 200 tiras da série, Joaquim e Manuel escapam do estereótipo da dupla cômica, formada por um personagem “ridículo” e outro “consciente”. Apanhados numa história da qual se recusam a ser meros coadjuvantes, eles nos fazem lembrar dos arquetípicos Dom Quixote e Sancho Pança (pois como sugere o próprio Joaquim, essa Caravela de Nilson é também uma metáfora existencial). Haveria ainda muito que dizer dessa série de quadrinhos (sobre a reconstituição de época precisa, sobre a narrativa criativa, os desenhos saborosos ou o humor que busca provocar a consciência das leitoras e dos leitores). Poderia se dizer ainda muita coisa, mas deixarei que vocês mesmos descubram porque A Caravela é, de fato, um quadrinho da melhor qualidade.

4 comentários:

Gustavo Carreira (requiem) disse...

Parece algo que seria muito interessante para o público português. Gostaria de ver algumas tiras.

Wellington Srbek disse...

Vou tentar te enviar algo para conheceres.

Anônimo disse...

O Ziraldo já foi publicado por cá e conheço alguma coisa de obra dele mas do Nilton desconheço totalmente, o que é pena porque tanto na arte mostrada aqui como na história da "Caravela" parece ser alguém merecedor de conhecer e apreciar o trabalho.

Wellington Srbek disse...

Quem mora em Portugal, creio que também possa comprar A Caravela. Basta clicar no link na postagem para mais informações ou entrar em contato diretamente com editor Henrique Magalhães: contato@marcadefantasia.com.br.