No início dos anos 90, após um período de afastamento, Alan Moore retornou aos quadrinhos de super-heróis, produzindo histórias para a recém-fundada Image Comics. Depois de trabalhar em HQs com Spawn de Todd McFarlane e Wild C.A.T.s de Jim Lee, foi a vez de ele emprestar suas idéias aos personagens de Rob Liefeld. Assim, em agosto de 1996, era lançada a revista Supremo n°41, na qual o roteirista inglês reinventou criativamente o que era, até então, meramente uma cópia mais violenta do Super-Homem.
Usando uma abordagem desconstrutivista (semelhante ao que fizera com Marvelman / Miracleman), o roteirista apropriou-se do fato de o personagem ser um plágio, escrevendo histórias que utilizavam os principais elementos da chamada “mitologia” do Homem-de-Aço. Além disso, a reformulação do personagem de Liefeld contou com sequências “nostálgicas” desenhadas por Rick Veitch, imitando o estilo de quadrinhos dos anos 40, 50 e 60 (algo próximo ao que já tinham feito com os heróis Marvel na minissérie 1963).
O resultado foram histórias originais e significativas que influenciariam trabalhos de outros autores (e lançariam as bases das séries Tom Strong e Tomorrow Stories da linha ABC). Concluindo a publicação da fase de Moore à frente da revista Supremo, a Devir lança agora A Era Moderna, quarto volume da coleção, que traz as cinco últimas edições escritas pelo consagrado roteirista. Com HQs lançadas entre 1999 e 2000 (época em que Moore já estava mergulhado no projeto ABC), boa parte desta edição final fica aquém do esperado.
A primeira história do volume é dedicada ao vilão Darius Dax e é tão fraca que chega a desanimar. Para piorar, o veterano Jim Starlin produz desenhos dignos de um iniciante sem talento. Nas três HQs seguintes, o visual melhora um pouco, mas os roteiros de Moore não convencem. A HQ com a namorada de Supremo, Diana Dane, é mal-estruturada; a seguinte com Radar, o supremo-cão, parece mais uma piada de mau-gosto; para completar, a que traz o amigo do herói, Billy Friday, enrola-se em paradoxos temporais e muita baboseira.
O que salva A Era Moderna são as sequências em estilo “retrô”, como o interlúdio estrelado pela Liga do Infinito (a versão Supremo para a Legião dos Super-Heróis da DC). Mas o melhor fica por conta da última história da edição: “New Jack City”, na qual Moore e Veitch homenageiam um dos grandes gênios dos quadrinhos. Inteligente e bem ilustrada, a HQ mostra a chegada de Supremo a uma misteriosa cidade saída das páginas dos quadrinhos de Jack Kirby, numa viagem que leva a um encontro com o “Rei” em pessoa.
“New Jack City” nasceu dos conceitos de inspiração platonista que Moore desenvolveu e adotou como filosofia pessoal, sobre uma dimensão ideal chamada “Ideaspace”. Nela, um autor tão produtivo e criativo quanto Kirby alcançaria uma condição de divindade, ocupando um lugar próprio, povoado por suas criações. Escrito por alguém que declarou ter tido um encontro real com um de seus personagens (o mago John Constantine), o roteiro de Moore é uma elaborada brincadeira ficcional e um inteligente tributo a um mestre.
O que impressiona mais, contudo, são as páginas desenhadas por Veitch, num convincente traço “kirbiano”. Página a página, estão lá versões alteradas dos heróis patrióticos (como o Capitão América), de vilões tecnológicos (como o Doutor Destino), de divindades emprestadas das antigas mitologias (como os Asgardianos) ou de seres cósmicos inventados (como os Novos Deuses). Há também as texturas, os maneirismos, os enquadramentos dinâmicos e as diagramações específicas de Kirby, tudo reproduzido em detalhe.
O clímax da HQ são as páginas em que aparece a cabeça-divindade Kirby. Evocando um sentido de respeito e temor quase religiosos, a figura brilha em raios laser, radia energia cósmica, assume a forma de pedra ou árvore, peixe ou máquina, sempre mutável e inconfundível, como era a arte do "Rei". Simplesmente fantástica, “New Jack City” foi o último capítulo que Moore e Veitch criaram para Supremo e, embora restassem duas edições a serem produzidas, este tributo em quadrinhos foi um fechamento com “chave de ouro”.
Supremo: A Era Moderna tem formato reduzido, 16,5cm x 24cm, capa cartonada e 144 páginas, ao preço de R$42,00, trazendo um texto complementar do editor Leandro Luigi de Manto sobre os quadrinhos de Jack Kirby. Não faltam também, mais uma vez, deslizes na revisão (“um amiga”, p.51) e mesmo na tradução (“aparência” no lugar de “aparição”, p.113). Uma edição para aqueles que acompanharam a série, este quarto volume também é indicado para os fãs de Jack Kirby.
Usando uma abordagem desconstrutivista (semelhante ao que fizera com Marvelman / Miracleman), o roteirista apropriou-se do fato de o personagem ser um plágio, escrevendo histórias que utilizavam os principais elementos da chamada “mitologia” do Homem-de-Aço. Além disso, a reformulação do personagem de Liefeld contou com sequências “nostálgicas” desenhadas por Rick Veitch, imitando o estilo de quadrinhos dos anos 40, 50 e 60 (algo próximo ao que já tinham feito com os heróis Marvel na minissérie 1963).
O resultado foram histórias originais e significativas que influenciariam trabalhos de outros autores (e lançariam as bases das séries Tom Strong e Tomorrow Stories da linha ABC). Concluindo a publicação da fase de Moore à frente da revista Supremo, a Devir lança agora A Era Moderna, quarto volume da coleção, que traz as cinco últimas edições escritas pelo consagrado roteirista. Com HQs lançadas entre 1999 e 2000 (época em que Moore já estava mergulhado no projeto ABC), boa parte desta edição final fica aquém do esperado.
A primeira história do volume é dedicada ao vilão Darius Dax e é tão fraca que chega a desanimar. Para piorar, o veterano Jim Starlin produz desenhos dignos de um iniciante sem talento. Nas três HQs seguintes, o visual melhora um pouco, mas os roteiros de Moore não convencem. A HQ com a namorada de Supremo, Diana Dane, é mal-estruturada; a seguinte com Radar, o supremo-cão, parece mais uma piada de mau-gosto; para completar, a que traz o amigo do herói, Billy Friday, enrola-se em paradoxos temporais e muita baboseira.
O que salva A Era Moderna são as sequências em estilo “retrô”, como o interlúdio estrelado pela Liga do Infinito (a versão Supremo para a Legião dos Super-Heróis da DC). Mas o melhor fica por conta da última história da edição: “New Jack City”, na qual Moore e Veitch homenageiam um dos grandes gênios dos quadrinhos. Inteligente e bem ilustrada, a HQ mostra a chegada de Supremo a uma misteriosa cidade saída das páginas dos quadrinhos de Jack Kirby, numa viagem que leva a um encontro com o “Rei” em pessoa.
“New Jack City” nasceu dos conceitos de inspiração platonista que Moore desenvolveu e adotou como filosofia pessoal, sobre uma dimensão ideal chamada “Ideaspace”. Nela, um autor tão produtivo e criativo quanto Kirby alcançaria uma condição de divindade, ocupando um lugar próprio, povoado por suas criações. Escrito por alguém que declarou ter tido um encontro real com um de seus personagens (o mago John Constantine), o roteiro de Moore é uma elaborada brincadeira ficcional e um inteligente tributo a um mestre.
O que impressiona mais, contudo, são as páginas desenhadas por Veitch, num convincente traço “kirbiano”. Página a página, estão lá versões alteradas dos heróis patrióticos (como o Capitão América), de vilões tecnológicos (como o Doutor Destino), de divindades emprestadas das antigas mitologias (como os Asgardianos) ou de seres cósmicos inventados (como os Novos Deuses). Há também as texturas, os maneirismos, os enquadramentos dinâmicos e as diagramações específicas de Kirby, tudo reproduzido em detalhe.
O clímax da HQ são as páginas em que aparece a cabeça-divindade Kirby. Evocando um sentido de respeito e temor quase religiosos, a figura brilha em raios laser, radia energia cósmica, assume a forma de pedra ou árvore, peixe ou máquina, sempre mutável e inconfundível, como era a arte do "Rei". Simplesmente fantástica, “New Jack City” foi o último capítulo que Moore e Veitch criaram para Supremo e, embora restassem duas edições a serem produzidas, este tributo em quadrinhos foi um fechamento com “chave de ouro”.
Supremo: A Era Moderna tem formato reduzido, 16,5cm x 24cm, capa cartonada e 144 páginas, ao preço de R$42,00, trazendo um texto complementar do editor Leandro Luigi de Manto sobre os quadrinhos de Jack Kirby. Não faltam também, mais uma vez, deslizes na revisão (“um amiga”, p.51) e mesmo na tradução (“aparência” no lugar de “aparição”, p.113). Uma edição para aqueles que acompanharam a série, este quarto volume também é indicado para os fãs de Jack Kirby.
2 comentários:
Rapaz,
Duas coisas:
1) Muito boa a resenha, Supremo é muito bom, tenho os três primeiros encadernados, só falat esse agora!
2) Hoje éoBlog Day, né? Então te indiquei lá no meu Blog. http://hqvertigem.blogspot.com/
Abraço!
Valeu, von dews!
Rapaz, eu sabia que hoje era o Brazilan Day em Nova York, mas não o Blog Day.
Abraço!
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