21/03/2008

Artes Mágicas: uma entrevista com J.H. Williams III, parte3.


Última parte de nossa entrevista e J3 fala um pouco mais da magia de Promethea, de suas colaborações com Grant Morrison e sobre um “projeto secreto para a DC”.

Wellington Srbek: Promethea traz sempre aquelas inventivas e incomuns divisões de página. Quanto disso é idéia sua e quanto é de Alan Moore? E sobre a edição 32, que podemos ler a partir da capa, ou de cabeça para baixo, ou como dois pôsteres?

J.H. Williams III: Os experimentos em diagramação que usamos foram provavelmente cerca de 50% meus e 50% do Alan. Como eu disse, nós tínhamos conversas antes de ele começar a escrever os roteiros. As idéias discutidas eram então traduzidas em roteiros. Houve idéias de diagramação que foram puramente dele e houve idéias que foram puramente minhas. E havia outras que foram uma combinação de idéias nossas em algo novo. A edição 32 é um artefato interessante. O conceito original para ela era de que as pinturas que formam as imagens do pôster fossem num estilo pontilhista. Era o que Alan estava querendo. Isso acabou não sendo muito efetivo em combinação com os desenhos em linha que precisavam ser incorporados às imagens pintadas. A idéia do pontilhismo carecia de energia e vivacidade. Então, eu achei melhor fazer das pinturas essa estranha mistura de impressionismo e pop art, meus dois tipos favoritos de arte. Isso imediatamente deu energia às peças e, quando combinadas aos desenhos em linha, elas criaram uma explosão psicodélica e metafísica de pensamento e arte. Meu objetivo era criar uma experiência visual que realmente não tivesse sido vista antes nos quadrinhos ou fora dos quadrinhos também. Eu creio que, mesmo que tenhamos feito as coisas diferentemente do que Alan tinha imaginado, o resultado final foi algo único e poderoso e que, portanto, fez jus a suas noções iniciais. E por causa daquela energia, o comentário final da série foi cheio de vida e cor, algo psicodelicamente cósmico no seu caráter pop art singular. Creio que a fusão de impressionismo e pop art verdadeiramente levou as coisas a um território inexplorado. Não era nem completamente uma revista em quadrinhos, nem completamente uma peça de artes plásticas. Ela existe em algum lugar entre as duas. Perfeitamente adequada para ser o último comentário baseado em tudo o que a série disse ao longo do caminho. Uma outra coisa interessante é que ela não só lê em todas as direções mencionadas por você, bem como se você seguir as pequenas trilhas nas versões em pôster, você encontrará fios de ligação que se movem em todas as direções, não apenas da direita para a esquerda. Alguém pode facilmente se perder ali. Ela funciona realmente da maneira como a mente humana trabalha, onde pensamentos aleatórios podem ocorrer baseados em uma simples palavra ou frase. Assim como ouvir uma canção pode de alguma forma ativar uma memória que, através de caminhos sutis, está conectada àquela canção. Muito fascinante. O trabalho naquelas duas imagens é bem expressivo, exaustivo e emocional. Definitivamente, não é para aqueles que não queiram passar um tempo ali. Requer profunda concentração e trabalho.

WS: Embora vejamos demônios fazendo sexo grupal nos frisos de uma das primeiras edições, eu li que a DC Comics censurou alguns quadros de Promethea n°22. Isso é verdade? O que aconteceu?

J3: Sim, é verdade. Tivemos que encarar a censura em muitos outros lugares ao longo da série, mas o número 22 foi o mais significativo. As páginas 14 e 15 daquele número eram originalmente uma imagem única de deuses fazendo sexo. Era muito direta e apropriada para a cena. Mas os editores acharam que era demais e que precisávamos mudá-la. Porém, considerando que se tratava de uma parte totalmente pintada da história, e levaria muito tempo e seria muito dispendioso para eu pintar algo novo que fosse mais domesticado, nós dividimos a imagem digitalmente em quadros individuais, obscurecendo muitíssimo a ação. Eu sinto que isso prejudicou significativamente a clareza da narrativa, e então Alan e eu insistimos que a versão original fosse usada nas edições encadernadas. Assim, aqui nos Estados Unidos as coletâneas em capa-dura e brochura agora têm a imagem intacta, como ela deveria ter sido. Espero que as edições brasileiras sejam assim também e vocês não sejam forçados a ver uma versão censurada, uma vez que se trata de um produto inferior.

WS: O que você pode nos dizer sobre trabalhar com Alan Moore? Nós veremos uma nova colaboração num futuro próximo? Pessoalmente, eu espero que sim!

J3: Trabalhar com Alan foi uma das experiências mais criativamente libertadoras que tive e me permitiu trazer essa perspectiva para todos os meus trabalhos seguintes, que espero você terá a oportunidade de ver. Eu posso agora confiantemente trazer algo novo e fresco para cada projeto e não estou certo de que poderia dizer isso se não tivesse tido a oportunidade de trabalhar com Alan por tanto tempo. Eu também espero por uma futura colaboração. Será interessante ver o que pode ser feito, já que eu evoluí ainda mais desde que Promethea acabou.

WS: Mudando um pouco, como foi trabalhar com Grant Morrison em Sete Soldados?

J3: Novamente, trabalhar com Grant foi uma experiência criativa muito libertadora, mas por diferentes razões. Muito desafiador de maneiras alternativas ao que foi com Alan, mas tão gratificante quanto. Eu de fato acho que Grant e eu temos uma forma de pensar similar. Nós vemos coisas de uma forma similar. Em minha opinião, o trabalho que fizemos em Sete Soldados número 0 e número 1 é tão interessante quanto meu trabalho em Promethea, mas com uma diferente sensibilidade. Eu creio que o mesmo pode ser dito sobre meu trabalho com Warren Ellis em Desolation Jones.

WS: Para encerrar, fale-nos sobre seus projetos presentes e futuros.

J3: Bom, no final do ano passado saíram três edições minhas de Batman escritas por Grant Morrison. Eu fiz para a Vertigo dezenove capas multimídia para Crossing Midnight, escrita por Mike Carey e com arte por Jim Fern e cores por José Villarrubia [ilustrador e colorista digital de alguns números de Promethea]. Estou atualmente trabalhando em um projeto secreto para a DC Comics, que deve começar a sair no final do ano. Estou também quase terminando uma história de edição única com Jonah Hex, escrita por Jimmy Palmiotti e Justin Gray. E algum tempo depois de concluir o projeto secreto para a DC, Grant e eu deveremos começar nosso projeto de direitos autorais reservados, que ainda está por ser nomeado. Eu poderei também fazer alguns quadrinhos para Internet no futuro. [Perguntei a J3 se ele poderia nos dizer mais alguma coisa sobre o “projeto secreto” e a nova parceria com Grant Morrison, mas infelizmente ele disse que não era impossível no momento.]

WS: Obrigado pela entrevista!

J3: Obrigado Brasil! Por favor, visitem-me no endereço
WWW.JHWILLIAMS3.COM e dêem um olá.

4 comentários:

Marcus disse...

Grande Srbek! A gente demora, mas não deixa de comentar, e por coisas assim que eu simplesmente sou viciado no seu blog! Muito bom J.H Williams é de longe um dos melhores artistas da atualidade, com certeza, Promethea não teria tanta graça sem os desenhos dele (Por mais que o roteiro do Alam Moore seja foda, o que alias é redundante).

Alias falando no Alam Moore, ate nas entrevistas de outros artistas ele consegue se destacar! Incrível saber que Promethea foi escrito dessa forma! Fora que eu ainda não consigo assimilar a idéia da historia da ultima edição da Promethea, e não vejo a hora disso sair no Brasil logo! Eu acho que eu vou fica maluco (e pobre) de vez!
Nos mais é isso, um abraço do seu gafanhoto preferido!

Wellington Srbek disse...

Bom saber que você está gostando tanto, Marcus!
O que posso dizer por hora é que você não perde por esperar a entrevista que estou realizando agora.
Grande abraço!

Marcus disse...

Srbek, se você falar que entrevistou o Alan Moore, você vai contribuir pra agravação do meu problema de maluquice! =D

Wellington Srbek disse...

Calma, caríssimo Marcus. Não é o Moore, mas é um desenhista muito legal e importante. Aguarde!