Parte2 de nossa entrevista e J3 nos conta como foi trabalhar com Alan Moore na fantástica série Promethea, publicada no Brasil pela Pixel.
Wellington Srbek: Promethea finalmente está sendo publicada no Brasil. Ela é sem dúvida a melhor série dos quadrinhos norte-americanos nos últimos dez anos. Você poderia nos falar como era o processo de trabalho nessa revista, do roteiro às cores?
J.H. Williams III: O trabalho em Promethea era muito exaustivo. Muito mais do que qualquer um de nós havia antecipado. O processo básico era este: Alan e eu conversávamos ao telefone sobre idéias que ele tinha e coisas que eu queria fazer ou tentar fazer. Ele então escrevia um roteiro baseado naquela conversa. De início, eu não tinha muita contribuição nas idéias, até que eu começasse a desenhar. Porém, Alan viu o que eu estava fazendo nos esboços e visual, e meio que seguiu por ali. Ele mudou a maneira como pensava na estrutura, a partir do quê eu estava fazendo. Eu rapidamente percebi quanto poderíamos experimentar e comecei a dar a ele mais idéias com as quais trabalhar, e em retorno ele me dava desafios e mais idéias ainda em seu texto. Isso se tornou realmente mais evidente no que chamo de as edições da Jornada da Quabbalah, com todas aquelas mudanças de estilo. Nós conversávamos sobre que tipo de estilo eu queria testar, dependendo de qual era a história básica, e então ele escrevia um roteiro baseado nessas idéias. Eu também me comunicava direto com Mick na arte-final, com Jeremy Cox nas cores e com Todd Klein no letreramento, fornecendo notas para tudo, baseadas nos roteiros de Alan. Os roteiros de Promethea eram extremamente detalhados e requeriam muita atenção com o menor dos detalhes. O conteúdo e tema eram muito específicos no que diz respeito a várias coisas. Por exemplo, todas as cores, particularmente nas edições da Jornada da Quabbalah, tinham uma especificidade temática. Os roteiros de Alan eram bastante precisos e detalhados a esse respeito e eu tinha que transmitir essa informação corretamente para o colorista. Foi muito desafiador para todos nós. Permitiu-nos tentar coisas que você normalmente não vê na maioria dos quadrinhos.
WS: Alan Moore disse uma vez que já tinha a idéia para os 32 números desde o início. Mas eu tenho a sensação de que os números 1 a 12 de Promethea foram planejados como uma história por si só: a narrativa de como Sophie Bangs se torna essa semi-deusa de Imatéria. Portanto, se algo desse errado com a linha ABC [selo da Wildstorm que publicava as séries escritas por Moore], a série poderia parar no número 12, deixando os leitores com uma história completa. Estou muito errado?
J3: Bom, pelo que me lembro, não havia realmente uma edição final planejada. O que quero dizer é que Alan ia escrevendo a série dia após dia. Não havia um número de edições planejado ou qualquer plano de terminar no número 32. Pelo menos não que eu tenha sido informado. No início, todos queríamos trabalhar na série por quanto tempo fosse possível, e eu acredito que a forma como trabalhamos nela é prova disso. De várias maneiras a série foi escrita e ilustrada num movimento espontâneo. Era bem comum eu estar trabalhando numa página de uma edição, digamos as páginas 10 e 11 por exemplo, sem ter o roteiro para as páginas seguintes, 12 e 13. Então, eu ligava para o Alan e perguntava a ele o que teria na próxima página, de forma que eu pudesse planejar melhor a página em que estava trabalhando, e ele dizia algo como: “eu realmente não sei o que vai ter na próxima página, Jim, porque eu ainda não a escrevi”. Assim, ele estava realmente escrevendo a série dia após dia, com muito pouco planejamento envolvido, com muito pouca antecipação, no início, de para onde ela apontava, exceto por sabermos que ela seria sobre magia. Eu tinha que basicamente desenhar as páginas para as quais eu já tinha o roteiro e então fazer as páginas seguintes encaixarem no que eu tinha feito. Foi tudo muito complicado. É incrível como o material finalizado parece tão perfeitamente planejado e orquestrado. Acho que isso mostra o brilhantismo dos talentos de Alan. Provavelmente a seção mais pré-planejada da série foram as edições que levam ao fim, pois naquele ponto ele tinha decidido que a série de fato terminaria no número 32. A maneira como essa série foi construída, do texto ao desenho e às cores finais, eu sinto que foi em grande parte um exercício de criação metafísica. O que é de certa forma o tema da série.
WS: Falando de Promethea n°12, as imagens de fundo em cada uma das páginas começam onde as da página anterior terminaram. A coisa toda parece uma gigantesca tira de quadrinhos. Técnica e materialmente como você resolveu isso?
J3: Foi um desafio na certa, mas um que foi mais fácil de resolver do que você possa esperar. Basicamente, após concluir uma página, eu colocava a próxima prancha de desenho em branco ao lado da página concluída e simplesmente continuava a desenhar de onde parei. Não havia realmente um jeito fácil de fazer isso, especialmente considerando que a série estava sendo escrita como descrevi na pergunta anterior. Era tudo muito livre e fluido.
WS: Começando com Promethea n°13 nós temos o que você chama de “as edições da Jornada da Quabbalah”: uma maravilhosa viagem aos reinos da Kabbalah e das Artes Ocultas, que é também uma deliciosa experiência para os olhos. Cada edição e capa têm um diferente estilo artístico: Van Gogh, Dali, Mucha, Kaluta... Houve alguma favorita ou especialmente difícil de executar?
J3: Todas elas apresentaram seus desafios e exercícios próprios e eu realmente amo cada uma delas por diferentes razões. Eu diria que minha favorita deve ser a número 21, com o estilo mais grosso, de impressão em madeira. Essa edição traz uma sensação realmente interessante e é graficamente atraente para mim. O grande desafio nela foi como as cores foram aplicadas. Porque era preciso parecer que as diferentes seções dos desenhos foram impressas usando diferentes opções de cores, semelhante ao que você teria com impressões em madeira sofisticadas. Era preciso desenhar de uma maneira que fizesse sentido visual e não fosse confuso para o olho, depois que a fixação das cores fosse feita. Assim, basicamente tínhamos que nos assegurar de que as cores eram levadas em consideração, quando os desenhos eram feitos. Aquela parte da edição tem esse tipo de sentimento religioso de vitral, ou algo primitivo e arcaico. Muito apropriado para o tema daquela edição, creio eu.
A seguir: J3 fala da censura sobre Promethea, de trabalhar com Grant Morrison e de seu “projeto secreto para a DC”.
Wellington Srbek: Promethea finalmente está sendo publicada no Brasil. Ela é sem dúvida a melhor série dos quadrinhos norte-americanos nos últimos dez anos. Você poderia nos falar como era o processo de trabalho nessa revista, do roteiro às cores?
J.H. Williams III: O trabalho em Promethea era muito exaustivo. Muito mais do que qualquer um de nós havia antecipado. O processo básico era este: Alan e eu conversávamos ao telefone sobre idéias que ele tinha e coisas que eu queria fazer ou tentar fazer. Ele então escrevia um roteiro baseado naquela conversa. De início, eu não tinha muita contribuição nas idéias, até que eu começasse a desenhar. Porém, Alan viu o que eu estava fazendo nos esboços e visual, e meio que seguiu por ali. Ele mudou a maneira como pensava na estrutura, a partir do quê eu estava fazendo. Eu rapidamente percebi quanto poderíamos experimentar e comecei a dar a ele mais idéias com as quais trabalhar, e em retorno ele me dava desafios e mais idéias ainda em seu texto. Isso se tornou realmente mais evidente no que chamo de as edições da Jornada da Quabbalah, com todas aquelas mudanças de estilo. Nós conversávamos sobre que tipo de estilo eu queria testar, dependendo de qual era a história básica, e então ele escrevia um roteiro baseado nessas idéias. Eu também me comunicava direto com Mick na arte-final, com Jeremy Cox nas cores e com Todd Klein no letreramento, fornecendo notas para tudo, baseadas nos roteiros de Alan. Os roteiros de Promethea eram extremamente detalhados e requeriam muita atenção com o menor dos detalhes. O conteúdo e tema eram muito específicos no que diz respeito a várias coisas. Por exemplo, todas as cores, particularmente nas edições da Jornada da Quabbalah, tinham uma especificidade temática. Os roteiros de Alan eram bastante precisos e detalhados a esse respeito e eu tinha que transmitir essa informação corretamente para o colorista. Foi muito desafiador para todos nós. Permitiu-nos tentar coisas que você normalmente não vê na maioria dos quadrinhos.
WS: Alan Moore disse uma vez que já tinha a idéia para os 32 números desde o início. Mas eu tenho a sensação de que os números 1 a 12 de Promethea foram planejados como uma história por si só: a narrativa de como Sophie Bangs se torna essa semi-deusa de Imatéria. Portanto, se algo desse errado com a linha ABC [selo da Wildstorm que publicava as séries escritas por Moore], a série poderia parar no número 12, deixando os leitores com uma história completa. Estou muito errado?
J3: Bom, pelo que me lembro, não havia realmente uma edição final planejada. O que quero dizer é que Alan ia escrevendo a série dia após dia. Não havia um número de edições planejado ou qualquer plano de terminar no número 32. Pelo menos não que eu tenha sido informado. No início, todos queríamos trabalhar na série por quanto tempo fosse possível, e eu acredito que a forma como trabalhamos nela é prova disso. De várias maneiras a série foi escrita e ilustrada num movimento espontâneo. Era bem comum eu estar trabalhando numa página de uma edição, digamos as páginas 10 e 11 por exemplo, sem ter o roteiro para as páginas seguintes, 12 e 13. Então, eu ligava para o Alan e perguntava a ele o que teria na próxima página, de forma que eu pudesse planejar melhor a página em que estava trabalhando, e ele dizia algo como: “eu realmente não sei o que vai ter na próxima página, Jim, porque eu ainda não a escrevi”. Assim, ele estava realmente escrevendo a série dia após dia, com muito pouco planejamento envolvido, com muito pouca antecipação, no início, de para onde ela apontava, exceto por sabermos que ela seria sobre magia. Eu tinha que basicamente desenhar as páginas para as quais eu já tinha o roteiro e então fazer as páginas seguintes encaixarem no que eu tinha feito. Foi tudo muito complicado. É incrível como o material finalizado parece tão perfeitamente planejado e orquestrado. Acho que isso mostra o brilhantismo dos talentos de Alan. Provavelmente a seção mais pré-planejada da série foram as edições que levam ao fim, pois naquele ponto ele tinha decidido que a série de fato terminaria no número 32. A maneira como essa série foi construída, do texto ao desenho e às cores finais, eu sinto que foi em grande parte um exercício de criação metafísica. O que é de certa forma o tema da série.
WS: Falando de Promethea n°12, as imagens de fundo em cada uma das páginas começam onde as da página anterior terminaram. A coisa toda parece uma gigantesca tira de quadrinhos. Técnica e materialmente como você resolveu isso?
J3: Foi um desafio na certa, mas um que foi mais fácil de resolver do que você possa esperar. Basicamente, após concluir uma página, eu colocava a próxima prancha de desenho em branco ao lado da página concluída e simplesmente continuava a desenhar de onde parei. Não havia realmente um jeito fácil de fazer isso, especialmente considerando que a série estava sendo escrita como descrevi na pergunta anterior. Era tudo muito livre e fluido.
WS: Começando com Promethea n°13 nós temos o que você chama de “as edições da Jornada da Quabbalah”: uma maravilhosa viagem aos reinos da Kabbalah e das Artes Ocultas, que é também uma deliciosa experiência para os olhos. Cada edição e capa têm um diferente estilo artístico: Van Gogh, Dali, Mucha, Kaluta... Houve alguma favorita ou especialmente difícil de executar?
J3: Todas elas apresentaram seus desafios e exercícios próprios e eu realmente amo cada uma delas por diferentes razões. Eu diria que minha favorita deve ser a número 21, com o estilo mais grosso, de impressão em madeira. Essa edição traz uma sensação realmente interessante e é graficamente atraente para mim. O grande desafio nela foi como as cores foram aplicadas. Porque era preciso parecer que as diferentes seções dos desenhos foram impressas usando diferentes opções de cores, semelhante ao que você teria com impressões em madeira sofisticadas. Era preciso desenhar de uma maneira que fizesse sentido visual e não fosse confuso para o olho, depois que a fixação das cores fosse feita. Assim, basicamente tínhamos que nos assegurar de que as cores eram levadas em consideração, quando os desenhos eram feitos. Aquela parte da edição tem esse tipo de sentimento religioso de vitral, ou algo primitivo e arcaico. Muito apropriado para o tema daquela edição, creio eu.
A seguir: J3 fala da censura sobre Promethea, de trabalhar com Grant Morrison e de seu “projeto secreto para a DC”.
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