J.H. Williams III é, sem dúvida, um dos mais talentosos artistas dos quadrinhos norte-americanos na atualidade. Nesta entrevista exclusiva em três partes, feita por e-mail, nós conversamos sobre seu trabalho em Promethea (a fantástica série escrita por Alan Moore e atualmente publicada na Pixel Magazine), sobre suas parcerias com Grant Morrison e muito mais. Com vocês, então, a magia criativa de um grande artista dos quadrinhos.
Wellington Srbek: É um prazer conversar com você, a quem considero um dos melhores artistas dos quadrinhos norte-americanos hoje. Por favor, dê a seus fãs no Brasil algumas informações biográficas: onde e quando você nasceu? Que revistas e artistas você gostava quando jovem? Quais tiveram mais influência em seu trabalho?
J.H. Williams III: Olá Brasil. Eu nasci em Roswell, Novo México em 18 de dezembro de 1965. Segundo minha mãe, a primeira coisa que segurei com minhas próprias mãos quando bebê foi um lápis. No início da adolescência, eu tinha uma atração por revistas de super-heróis de todos os tipos, mas nunca realmente prestei atenção em quem as estava escrevendo ou desenhando, até mais tarde. Contudo, eu sempre desenhava os personagens. Uma de minhas lembranças mais antigas é de fazer desenhos do Homem de Ferro, Homem-Aranha e Hulk, vários personagens da Marvel. Quanto a influências, eu devo dizer que durante aqueles anos de formação eu tive contato com os Micronautas. Quando garoto eu era maluco com esses brinquedos chamados Micronautas. Eu tinha um monte deles e era viciado em brincar com eles e encontrar novos. Então, um dia eu estava dando uma olhada em algumas revistas em quadrinhos nos expositores do mercadinho local e topei com uma revista Micronautas [cujas HQs foram publicadas no Brasil nos anos 80 na Heróis da TV da Abril Jovem]. Era a primeira edição e por causa de minha obsessão com aqueles brinquedos eu tive que comprá-la. Eu voltei para casa e a li imediatamente. Acho que meu cérebro explodiu de imaginação enquanto eu lia aquele quadrinho. Ele me afetou como nenhum outro quadrinho antes. A história era brilhante e provocativa. Os desenhos eram magníficos e eram diferentes de tudo que eu tinha visto antes. Esse foi o primeiro quadrinho que eu realmente estudei cada detalhe, e aí notei que havia créditos ligados ao trabalho. Até aquele ponto, eu nunca tinha dado qualquer atenção para o fato de que pessoas escreviam e desenhavam aquelas coisas. Os criadores eram o roteirista Bill Mantlo e o desenhista Michael Golden, com arte-final de Al Migrom. Aquela série em específico mudou minha juventude. Alguns amigos da escola estavam conversando comigo sobre revistas em quadrinhos e disseram que, se eu gostava tanto de Micronautas, deveria ver esta outra chamada Uncanny X-Men. Eles me mostraram o que tinham e era uma das primeiras edições de Claremont e Byrne. Eu fui imediatamente fisgado por aquela revista também. Foi tão poderoso e inspirador quanto com Micronautas, mas de uma forma diferente. Ambas as séries tinham vozes únicas, muito distintas uma da outra, mas as duas eram forças muito poderosas numa mente adolescente. Foi daquele ponto na minha que eu decidi que seria um artista de quadrinhos. Então eu diria que aqueles foram os quadrinhos mais influentes enquanto eu crescia. Daí eu fui descobrir Kirby, Ditko, Moebius e muitos outros em minha juventude.
WS: Muitos dos seus quadrinhos trazem diferentes estilos e técnicas, o que sugere uma formação sólida em artes visuais e um gosto pela pesquisa. Estou certo?
J3: Minha principal formação em arte é realmente ser autodidata. Eu sempre estudava qualquer trabalho que estivesse olhando, para tentar compreender como ele era feito. Assim, eu me tornei muito bom em notar todas as coisas sutis que fazem uma imagem. Eu ainda faço isso hoje. O treinamento mais importante que já tive foi num curso de arte publicitária e design. Esse curso era menos sobre a qualidade do desenho e mais sobre a idéia por trás do desenho. Isso teve um enorme impacto em todo o meu trabalho. A principal razão pela qual meus desenhos tinham alguma qualidade quando jovem era porque eu estava desenhando e rascunhando o tempo todo. Tanto que eu devia pensar que meu trabalho seria melhor hoje do que ele é. Mas falando sério, esta é uma das coisas que meu professor de arte publicitária diria: “que meus desenhos prestavam porque eu praticava o tempo todo”. Mas o principal objetivo dele era me fazer pensar sobre O QUE eu estava desenhando. A forma como a composição funcionava. O que o desenho estava tentando dizer.
WS: Eu descobri seu trabalho em parceria com o arte-finalista Mick Gray na revista Green Lantern Tangent [parte da série que trazia versões alternativas dos super-heróis DC Comics], e tenho que dizer que foi “amor à primeira vista”! Como você conheceu Mick Gray e como foi trabalhar com ele?
J3: Obrigado. Eu conheci Mick numa convenção alguns anos antes de começarmos a trabalhar juntos. Na época, ele trabalhava como assistente de outros arte-finalistas e também com Chuck Austen numa série chamada Strips. Estávamos sentados ao lado um do outro numa apresentação e começamos a conversar. Naquela época, eu era um grande admirador de Strips e isso foi o que deu início a nosso relacionamento. Algum tempo depois, eu o convenci a arte-finalizar uma ilustração que eu tinha feito e adorei o resultado. Daquele momento em diante, eu não trabalhei com ninguém mais como meu arte-finalista. Eu trabalhei exclusivamente com ele até quase o fim de Promethea. Foi aí que comecei a arte-finalizar todos os meus trabalhos. Ele foi o único arte-finalista que realmente trabalhou melhor sobre meu lápis, até que eu evoluí a um ponto onde eu precisava arte-finalizar meu próprio trabalho. Eu estimo imensamente a parceria que tivemos.
A seguir: J3 fala sobre a magia de criar Promethea.
Wellington Srbek: É um prazer conversar com você, a quem considero um dos melhores artistas dos quadrinhos norte-americanos hoje. Por favor, dê a seus fãs no Brasil algumas informações biográficas: onde e quando você nasceu? Que revistas e artistas você gostava quando jovem? Quais tiveram mais influência em seu trabalho?
J.H. Williams III: Olá Brasil. Eu nasci em Roswell, Novo México em 18 de dezembro de 1965. Segundo minha mãe, a primeira coisa que segurei com minhas próprias mãos quando bebê foi um lápis. No início da adolescência, eu tinha uma atração por revistas de super-heróis de todos os tipos, mas nunca realmente prestei atenção em quem as estava escrevendo ou desenhando, até mais tarde. Contudo, eu sempre desenhava os personagens. Uma de minhas lembranças mais antigas é de fazer desenhos do Homem de Ferro, Homem-Aranha e Hulk, vários personagens da Marvel. Quanto a influências, eu devo dizer que durante aqueles anos de formação eu tive contato com os Micronautas. Quando garoto eu era maluco com esses brinquedos chamados Micronautas. Eu tinha um monte deles e era viciado em brincar com eles e encontrar novos. Então, um dia eu estava dando uma olhada em algumas revistas em quadrinhos nos expositores do mercadinho local e topei com uma revista Micronautas [cujas HQs foram publicadas no Brasil nos anos 80 na Heróis da TV da Abril Jovem]. Era a primeira edição e por causa de minha obsessão com aqueles brinquedos eu tive que comprá-la. Eu voltei para casa e a li imediatamente. Acho que meu cérebro explodiu de imaginação enquanto eu lia aquele quadrinho. Ele me afetou como nenhum outro quadrinho antes. A história era brilhante e provocativa. Os desenhos eram magníficos e eram diferentes de tudo que eu tinha visto antes. Esse foi o primeiro quadrinho que eu realmente estudei cada detalhe, e aí notei que havia créditos ligados ao trabalho. Até aquele ponto, eu nunca tinha dado qualquer atenção para o fato de que pessoas escreviam e desenhavam aquelas coisas. Os criadores eram o roteirista Bill Mantlo e o desenhista Michael Golden, com arte-final de Al Migrom. Aquela série em específico mudou minha juventude. Alguns amigos da escola estavam conversando comigo sobre revistas em quadrinhos e disseram que, se eu gostava tanto de Micronautas, deveria ver esta outra chamada Uncanny X-Men. Eles me mostraram o que tinham e era uma das primeiras edições de Claremont e Byrne. Eu fui imediatamente fisgado por aquela revista também. Foi tão poderoso e inspirador quanto com Micronautas, mas de uma forma diferente. Ambas as séries tinham vozes únicas, muito distintas uma da outra, mas as duas eram forças muito poderosas numa mente adolescente. Foi daquele ponto na minha que eu decidi que seria um artista de quadrinhos. Então eu diria que aqueles foram os quadrinhos mais influentes enquanto eu crescia. Daí eu fui descobrir Kirby, Ditko, Moebius e muitos outros em minha juventude.
WS: Muitos dos seus quadrinhos trazem diferentes estilos e técnicas, o que sugere uma formação sólida em artes visuais e um gosto pela pesquisa. Estou certo?
J3: Minha principal formação em arte é realmente ser autodidata. Eu sempre estudava qualquer trabalho que estivesse olhando, para tentar compreender como ele era feito. Assim, eu me tornei muito bom em notar todas as coisas sutis que fazem uma imagem. Eu ainda faço isso hoje. O treinamento mais importante que já tive foi num curso de arte publicitária e design. Esse curso era menos sobre a qualidade do desenho e mais sobre a idéia por trás do desenho. Isso teve um enorme impacto em todo o meu trabalho. A principal razão pela qual meus desenhos tinham alguma qualidade quando jovem era porque eu estava desenhando e rascunhando o tempo todo. Tanto que eu devia pensar que meu trabalho seria melhor hoje do que ele é. Mas falando sério, esta é uma das coisas que meu professor de arte publicitária diria: “que meus desenhos prestavam porque eu praticava o tempo todo”. Mas o principal objetivo dele era me fazer pensar sobre O QUE eu estava desenhando. A forma como a composição funcionava. O que o desenho estava tentando dizer.
WS: Eu descobri seu trabalho em parceria com o arte-finalista Mick Gray na revista Green Lantern Tangent [parte da série que trazia versões alternativas dos super-heróis DC Comics], e tenho que dizer que foi “amor à primeira vista”! Como você conheceu Mick Gray e como foi trabalhar com ele?
J3: Obrigado. Eu conheci Mick numa convenção alguns anos antes de começarmos a trabalhar juntos. Na época, ele trabalhava como assistente de outros arte-finalistas e também com Chuck Austen numa série chamada Strips. Estávamos sentados ao lado um do outro numa apresentação e começamos a conversar. Naquela época, eu era um grande admirador de Strips e isso foi o que deu início a nosso relacionamento. Algum tempo depois, eu o convenci a arte-finalizar uma ilustração que eu tinha feito e adorei o resultado. Daquele momento em diante, eu não trabalhei com ninguém mais como meu arte-finalista. Eu trabalhei exclusivamente com ele até quase o fim de Promethea. Foi aí que comecei a arte-finalizar todos os meus trabalhos. Ele foi o único arte-finalista que realmente trabalhou melhor sobre meu lápis, até que eu evoluí a um ponto onde eu precisava arte-finalizar meu próprio trabalho. Eu estimo imensamente a parceria que tivemos.
A seguir: J3 fala sobre a magia de criar Promethea.
Um comentário:
Demais o trabalho do JH Williams III, obrigado por compartilhar estas entrevistas!
abs
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