Na primeira metade dos anos 90, o canadense Todd McFarlane foi um dos desenhistas mais populares dos quadrinhos norte-americanos. Sendo um dos fundadores da Image Comics, ele foi aclamado pela mídia e revistas especializadas como um dos quadrinistas mais importantes da época. Mas será que, neste caso, fama e talento andavam juntos?
McFarlane é um cara de sorte ou, pelo menos, alguém que estava no lugar certo na hora certa e soube aproveitar as oportunidades. Tendo se formado em artes gráficas, ele não tinha muita experiência com quadrinhos quando conseguiu seu primeiro contrato. Mas, em pouco tempo, o desenhista já estava trabalhando para a DC Comics, em revistas de menor importância e até em algumas HQs com o Batman. Mas sua grande chance foi na revista Incredible Hulk, onde começou imitando e até plagiando os desenhos de John Byrne. Essa fase inicial de obscuridade e mediocridade foi logo superada e o primeiro sucesso de McFarlane veio com uma HQ em que o Hulk enfrenta o Wolverine.
A partir daí, a Marvel e os leitores passaram a prestar mais atenção no jovem desenhista, cuja popularidade crescia vertiginosamente. Com o sucesso das HQs do Hulk (onde definiu os principais elementos de seu estilo), McFarlane foi contratado pela DC para desenhar os primeiros capítulos da minissérie Invasão, e escolhido pela Marvel para assumir os desenhos de um dos mais importantes heróis da editora: o Homem-Aranha (em HQs lançadas no Brasil originalmente pela Abril Jovem e relançadas agora pela Panini). Adaptando-se rapidamente ao novo personagem, em poucas edições McFarlane impôs seu estilo pessoal e sua forma peculiar de desenhar o Homem-Aranha.
Quebrando o herói em ângulos e poses inusitadas, o desenhista aproximou-o do visual de um aracnídeo, explorando também a forma de suas teias. McFarlane foi ainda o co-criador do vilão Venon, que teria grande importância nas histórias do Aranha a partir de então. Essas HQs de fins dos anos 80 tornaram o “Cabeça de Teia” tão ou mais popular do que ele fôra nos anos 70, motivando a Marvel a criar uma nova revista totalmente produzida por McFarlane. O público respondeu à altura, e Spider-Man nº 1 bateu todos os recordes de vendas do mercado norte-americano. Porém, a alegria da editora não durou muito, pois (pouco mais de um ano após o lançamento da Spider-Man) o quadrinista deixou a Marvel para fundar a Image Comics e lançar a revista Spawn, outro sucesso instantâneo.
Como as demais formas de cultura de massas, os quadrinhos de super-heróis têm que se adaptar às novas exigências do mercado e do público. E uma vez que os roteiros em geral são muito fracos, as editoras buscam atrair os leitores pelo visual das revistas. No final dos anos 80, uma nova geração de desenhistas encabeçada por Todd McFarlane tomou de assalto as páginas das principais publicações, estabelecendo um novo estilo que transformaria o mercado dos comics definitivamente. Cores produzidas por computação gráfica, excessivas mudanças de ângulo, personagens que extrapolam os limites do quadro, predomínio de fragmentos de imagem, poses e expressões exageradas, além das linhas de movimento e da estética dos desenhos japoneses eram as principais características das HQs produzidas por McFarlane & Cia. A boa repercussão desses trabalhos acabou estabelecendo um padrão seguido pela maioria dos desenhistas nos anos 90.
Além da padronização (que diminui a diversidade de estilos e as possibilidades artísticas), um dos grandes problemas daquelas HQs era a superexploração dos recursos visuais, em detrimento da narrativa. Algumas das páginas desenhadas por McFarlane são emaranhados de traços e rabiscos sem função. O excessivo uso de páginas com apenas um ou dois quadros é outro problema: empobrece o desenrolar da história, tornando-a muito dependente do texto, que por sua vez é formado por pérolas como: “A força da rajada de Spawn faz um buraco do tamanho de uma bola de basquete no vilão. Os tijolos da parede são banhados em sangue fétido...”. Mas, com todo o sucesso comercial, McFarlane não demorou a deixar os quadrinhos de Spawn um pouco de lado. Tendo sido substituído várias vezes por outros roteiristas, ele acabou passando os desenhos da revista para Greg Capullo (que, apesar de seguir seu estilo, conseguia não raras vezes superar em muito o original).
O próprio McFarlane reconheceu que o fato de vários leitores gostarem de Spawn não o tornava um escritor ou artista genial, o que se confirma a cada página de suas HQs. Com seu estilo meio caricatural (repleto de erros de anatomia), sua narrativa fragmentada e seus roteiros medíocres, as primeiras edições da Spawn realmente conquistaram os leitores. Enorme sucesso comercial, o anti-herói saído do Inferno acabaria extrapolando as páginas dos quadrinhos, originando uma linha de brinquedos, uma série de animação e um horroroso filme para o cinema. Após ganhar muito dinheiro com os quadrinhos, McFarlane assumiu um papel mais empresarial, apenas supervisionando a revista Spawn e dedicando-se a projetos em outras mídias, como games e vídeos. Nos últimos anos, uma importante ocupação do empresário-desenhista foi responder a processos judiciais, numa contenda com o roteirista Neil Gaiman pelos pagamentos e direitos sobre a personagem Angela e o herói Miracleman.
Para McFarlane, os quadrinhos não passam de “vinte minutos de diversão despretensiosa”. Mesmo assim, isso não justificaria seu empobrecimento como linguagem. Afinal, foi também com a intenção de criar puro entretenimento que quadrinistas como Will Eisner e Jack Kirby revolucionaram a narrativa, estética e temática dos comics. Infelizmente, no caso de Todd McFarlane, fama e talento não costumam andar juntos.
McFarlane é um cara de sorte ou, pelo menos, alguém que estava no lugar certo na hora certa e soube aproveitar as oportunidades. Tendo se formado em artes gráficas, ele não tinha muita experiência com quadrinhos quando conseguiu seu primeiro contrato. Mas, em pouco tempo, o desenhista já estava trabalhando para a DC Comics, em revistas de menor importância e até em algumas HQs com o Batman. Mas sua grande chance foi na revista Incredible Hulk, onde começou imitando e até plagiando os desenhos de John Byrne. Essa fase inicial de obscuridade e mediocridade foi logo superada e o primeiro sucesso de McFarlane veio com uma HQ em que o Hulk enfrenta o Wolverine.
A partir daí, a Marvel e os leitores passaram a prestar mais atenção no jovem desenhista, cuja popularidade crescia vertiginosamente. Com o sucesso das HQs do Hulk (onde definiu os principais elementos de seu estilo), McFarlane foi contratado pela DC para desenhar os primeiros capítulos da minissérie Invasão, e escolhido pela Marvel para assumir os desenhos de um dos mais importantes heróis da editora: o Homem-Aranha (em HQs lançadas no Brasil originalmente pela Abril Jovem e relançadas agora pela Panini). Adaptando-se rapidamente ao novo personagem, em poucas edições McFarlane impôs seu estilo pessoal e sua forma peculiar de desenhar o Homem-Aranha.
Quebrando o herói em ângulos e poses inusitadas, o desenhista aproximou-o do visual de um aracnídeo, explorando também a forma de suas teias. McFarlane foi ainda o co-criador do vilão Venon, que teria grande importância nas histórias do Aranha a partir de então. Essas HQs de fins dos anos 80 tornaram o “Cabeça de Teia” tão ou mais popular do que ele fôra nos anos 70, motivando a Marvel a criar uma nova revista totalmente produzida por McFarlane. O público respondeu à altura, e Spider-Man nº 1 bateu todos os recordes de vendas do mercado norte-americano. Porém, a alegria da editora não durou muito, pois (pouco mais de um ano após o lançamento da Spider-Man) o quadrinista deixou a Marvel para fundar a Image Comics e lançar a revista Spawn, outro sucesso instantâneo.
Como as demais formas de cultura de massas, os quadrinhos de super-heróis têm que se adaptar às novas exigências do mercado e do público. E uma vez que os roteiros em geral são muito fracos, as editoras buscam atrair os leitores pelo visual das revistas. No final dos anos 80, uma nova geração de desenhistas encabeçada por Todd McFarlane tomou de assalto as páginas das principais publicações, estabelecendo um novo estilo que transformaria o mercado dos comics definitivamente. Cores produzidas por computação gráfica, excessivas mudanças de ângulo, personagens que extrapolam os limites do quadro, predomínio de fragmentos de imagem, poses e expressões exageradas, além das linhas de movimento e da estética dos desenhos japoneses eram as principais características das HQs produzidas por McFarlane & Cia. A boa repercussão desses trabalhos acabou estabelecendo um padrão seguido pela maioria dos desenhistas nos anos 90.
Além da padronização (que diminui a diversidade de estilos e as possibilidades artísticas), um dos grandes problemas daquelas HQs era a superexploração dos recursos visuais, em detrimento da narrativa. Algumas das páginas desenhadas por McFarlane são emaranhados de traços e rabiscos sem função. O excessivo uso de páginas com apenas um ou dois quadros é outro problema: empobrece o desenrolar da história, tornando-a muito dependente do texto, que por sua vez é formado por pérolas como: “A força da rajada de Spawn faz um buraco do tamanho de uma bola de basquete no vilão. Os tijolos da parede são banhados em sangue fétido...”. Mas, com todo o sucesso comercial, McFarlane não demorou a deixar os quadrinhos de Spawn um pouco de lado. Tendo sido substituído várias vezes por outros roteiristas, ele acabou passando os desenhos da revista para Greg Capullo (que, apesar de seguir seu estilo, conseguia não raras vezes superar em muito o original).
O próprio McFarlane reconheceu que o fato de vários leitores gostarem de Spawn não o tornava um escritor ou artista genial, o que se confirma a cada página de suas HQs. Com seu estilo meio caricatural (repleto de erros de anatomia), sua narrativa fragmentada e seus roteiros medíocres, as primeiras edições da Spawn realmente conquistaram os leitores. Enorme sucesso comercial, o anti-herói saído do Inferno acabaria extrapolando as páginas dos quadrinhos, originando uma linha de brinquedos, uma série de animação e um horroroso filme para o cinema. Após ganhar muito dinheiro com os quadrinhos, McFarlane assumiu um papel mais empresarial, apenas supervisionando a revista Spawn e dedicando-se a projetos em outras mídias, como games e vídeos. Nos últimos anos, uma importante ocupação do empresário-desenhista foi responder a processos judiciais, numa contenda com o roteirista Neil Gaiman pelos pagamentos e direitos sobre a personagem Angela e o herói Miracleman.
Para McFarlane, os quadrinhos não passam de “vinte minutos de diversão despretensiosa”. Mesmo assim, isso não justificaria seu empobrecimento como linguagem. Afinal, foi também com a intenção de criar puro entretenimento que quadrinistas como Will Eisner e Jack Kirby revolucionaram a narrativa, estética e temática dos comics. Infelizmente, no caso de Todd McFarlane, fama e talento não costumam andar juntos.
5 comentários:
Hoje, cando os aficionados falamos do Hulk evocamos ao Peter David pero naqueles anos... O nome de McFarlane sempre precedia o de Peter David!
E antes deles todos falávamos do John Byrne, que também produziu HQs para a Mulher-Hulk.
Todd soube fazer dinheiro com quadrinhos... só precisava ter investido mais na minha opinião, Ele criou um estilo que foi seguido por Greg Capullo que atualmente esta de molho, saldade desses tempos na revista SPAWN.
Não repare, J. Júnior, mas é que eu sou de um tempo em que quadrinho era arte e não se fazia apenas por dinheiro.
Abraço!
Mcfarlane ficou se sentindo a ultima bolacha do pacote...mas apesar do estrelismo...o cara é fera a fase do hulk e do aranha foram marcantes nas mãos desse fantastico desenhista ...ele simplesmente reinventou o modo de desenhar hq ...na época feras como o mago jonh byrne copiou ele ao desenhar o aranha...sou fã dele aliás do trabalho dele.
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