27/01/2008

Nossos parabéns a Frank Miller!


Frank Miller é hoje mundialmente conhecido como o autor das HQs que originaram os filmes Sin City e 300, além de ser o diretor do futuro filme Will Eisner’s The Spirit. Mas esse quadrinista norte-americano, que completa 51 anos hoje, já foi muito mais que uma estrela menor na constelação de Hollywood. Do início dos anos 80 até meados dos anos 90, seu trabalho influenciou os quadrinhos norte-americanos, dando origem a algumas das mais importantes HQs das últimas décadas.

Em postagens anteriores, já abordei sua prestigiada fase na revista Daredevil, sua marcante abordagem na minissérie Wolverine, além do inovador Ronin e do revolucionário O Cavaleiro das Trevas. Também falei de suas colaborações com David Mazzucchelli em A Queda de Murdock e Batman: Ano Um, bem como de suas parcerias com Bill Sienkiewicz na Graphic Novel do Demolidor e na minissérie Elektra Assassina. Mas, após essa sequência de importantíssimos trabalhos, Miller passou um tempo afastado dos quadrinhos. Nesse período, ele fez sua primeira aproximação com o cinema, produzindo o roteiro inicial do lastimável Robocop 2.

Quando voltou às HQs em 1990, Miller lançou a muito aguardada e bastante decepcionante graphic novel Elektra Vive, escrita e desenhada por ele, com cores pintadas por Lynn Varley. Na sequência, boa parte de seus trabalhos seria produzida em colaboração com outros desenhistas. Assim surgiram Give me Liberty em parceria com David Gibbons, Hard Boiled ilustrada por Geof Darrow, Robocop vs Exterminador desenhada por Walter Simonson e O Homem sem Medo com desenhos de John Romita Jr., isso sem falar na edição 11 da revista Spawn e na perfeitamente esquecível Spawn/Batman, ambas produzidas com Todd McFarlane. Contudo, o trabalho mais importante de Frank Miller em seu “retorno” aos quadrinhos foram as edições da série Sin City.

Lançada originalmente nas páginas da revista Dark Horse Presents, a primeira história de Sin City teve ótima repercussão, sendo reunida em livro e dando origem a uma bem-sucedida sequência de minisséries lançadas pelo selo Legend. Negando a superexploração visual pela qual os comics passavam na época, com suas HQs policiais em preto e branco, Miller resgatou elementos que andavam meio esquecidos nos quadrinhos norte-americanos. Efeitos de luz e sombra, uma história que justifique as sequências de ação, não existindo apenas em função delas, e uma narrativa que tenha um "fio condutor" são alguns dos elementos recuperados em Sin City. Além disso, nas seções de cartas das minisséries, Miller engajou-se num longo e acalorado debate contra os sistemas de censura do mercado norte-americano de quadrinhos. Mas o que mais impressionou em Sin City foi seu visual.

Alguns elementos, como um traço característico e conciso ou a narrativa rápida e com pouco texto, foram sendo aperfeiçoados por Miller ao longo de sua carreira. O que Sin City trouxe de inovador foi um uso peculiar do contraste entre luz e sombra. Esse novo estilo é composto principalmente por massas de preto e branco, empregadas de tal forma que os quadros parecem sempre iluminados por um clarão. Na verdade, esse recurso não foi criado originalmente por Miller, sendo em parte influenciado por Hugo Pratt, mas principalmente por Alberto Breccia, o desenhista argentino da série Mort Cinder. Nesta, a luminosidade e as sombras são utilizadas com o objetivo de reforçar o clima de tensão e mistério das histórias, enquanto no trabalho de Miller o efeito é empregado para destacar os personagens e as sequências de ação. Contudo, o quadrinista norte-americano parece ter se acostumado demais ao estilo e temáticas de Sin City, fazendo com que os volumes seguintes começassem a ser apenas “mais do mesmo”.

Enquanto trabalhava em novas HQs de Sin City, Miller produzia roteiros para diferentes desenhistas. Assim surgiram Martha Washington Goes to War e outras edições com a personagem desenhada por Dave Gibbons, a premiada The Big Guy and Rusty com as detalhadas ilustrações de Geof Darrow, bem como a apocalíptica e surrealista Bad Boy, produzida em parceria com Simon Bisley, como parte de uma aberta campanha contras as restrições aos temas abordados nos quadrinhos. Outro exemplo disso foi a revista Tales to Offend, na qual Miller apresenta o personagem Lance Blastoff, um mercenário interplanetário sem escrúpulos que vive atrás de diversão e dinheiro, matando dinossauros e poluindo reservas ambientais. Ao fim da década de 1990, Miller ainda lançaria com Lynn Varley a minissérie 300, sua estilizada e superestimada versão para a batalha das Termópilas.

O novo século trouxe Miller de volta à DC Comics e a um dos personagens que o consagraram no início de sua carreira. Os resultados, no entanto, foram o absolutamente dispensável DK2 e o meramente comercial All Star Batman, este último desenhado por Jim Lee. Mas, talvez cause ainda mais arrepios a anunciada “Santo Terror, Batman!”, HQ em que o quadrinista promete mostrar o Homem-Morcego enfrentando os terroristas da Al-Qaeda. De qualquer forma, com o sucesso das adaptações de Sin City e 300, além do esperado filme Will Eisner’s The Spirit, o futuro de Frank Miller parece cada vez mais ligado ao cinema. E se seus quadrinhos dos últimos anos deixaram muito a desejar, podemos sempre celebrar suas obras do passado, dando nossos parabéns a esse importante quadrinista.

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