Em 1979, um jovem e desconhecido desenhista chamado Frank Miller assumiu o lápis da revista Daredevil da Marvel Comics. No início, ele apenas desenhava as histórias escritas por Roger McKenzie, mas em pouco tempo passou a colaborar com o roteirista, para em seguida assumir também os roteiros. O fato é que, quando Miller desenhou sua primeira edição da Daredevil, a revista estava em vias de ser cancelada. Quando ele a deixou, em 1983, a publicação havia se tornado uma das mais vendidas e influentes do início dos anos 80, fazendo do Demolidor um personagem de primeira linha da Marvel, e de Frank Miller um nome conhecido e respeitado nos quadrinhos.
As histórias e os desenhos de Miller, complementados pela arte-final precisa de Klaus Janson, trouxeram uma ambientação e um realismo raros nos quadrinhos de super-heróis. Seus enquadramentos mostrando personagens de corpo inteiro, bem como seus “cortes” rápidos, valorizavam as sequências de ação, evidenciando a influência da narrativa cinematográfica moderna. Suas diversificadas e criativas divisões de página sublinhavam o “clima psicológico” dos roteiros, seguindo a risca os ensinamentos do mestre Will Eisner. E, é claro, há o elemento que conquistou os jovens leitores norte-americanos e brasileiros nos anos 80: a influência do mangá Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima, do qual Miller pegou emprestado não apenas sequências de quadros, mas também samurais, ninjas, katanas, estrelinhas mortais e toda sorte de elementos japoneses. Não é à toa que, após salvar a revista do desaparecimento, Miller apresentou sua principal criação: a personagem Elektra, uma antiga namorada do Demolidor, que se tornara uma sensual assassina ninja.
Com grande atenção aos detalhes e à construção psicológica dos personagens, Miller se fez valer de narrativas paralelas (em que os leitores seguem ao mesmo tempo duas linhas de ação) e também de enquadramentos subjetivos (em cenas desenhadas a partir do ponto de vista de um personagem). Tornou-se célebre a página em que o Demolidor aponta uma arma para o rosto do Mercenário, com a "câmera" se aproximando do olho do vilão nas passagens de quadro, até o momento extremo, quando a sequência é cortada e aparece o dedo do Demolidor puxando o gatilho. O herói não aparece, mas toda a tensão e a carga emocional que envolve a cena estão presentes nos olhos do vilão. Se não bastasse a inovação narrativa, o tema em si era bastante incomum para os comics, pois mostra o protagonista da história fazendo roleta-russa com o assassino de sua amada. Para os padrões dos quadrinhos de super-heróis, algo revolucionário! Miller tocou em temas nunca vistos em histórias da Marvel, tudo com uma abordagem direta. Ele utilizou a vida cotidiana e o pequeno mundo do crime presente nas grandes cidades. Seus heróis eram tão realistas quanto seus vilões: pessoas com problemas comuns, paixões e medos.
Com a qualidade e a boa repercussão alcançada por suas histórias, Miller tornou-se uma espécie de “autor oficial do Demolidor”, e isso mesmo após sua saída da revista Daredevil. Mas para a alegria dos fãs, ele não demoraria muito a retornar às HQs do “homem sem medo” e da enigmática Elektra. Em parceria com o artista Bill Sienkiewicz, Miller criou em 1986 a Graphic Novel do Demolidor e a minissérie Elektra Assassina (obras que inovaram a estética dos quadrinhos de super-heróis, abrindo espaço para HQs com arte pintada). Ao mesmo tempo, ele retomou os roteiros da revista Daredevil, com a ótima série de histórias que ficou conhecida no Brasil como A queda de Murdock (desenhada pelo talentoso David Mazzucchelli). No início dos anos 90, Miller retornaria aos personagens que fizeram sua fama em duas histórias: Elektra Vive, uma graphic novel que demorou mais de cinco anos para ser concluída (gerando uma enorme expectativa entre os leitores, mas não correspondendo no fim) e Demolidor - O Homem Sem Medo, minissérie desenhada por John Romita Jr. (que repete a fórmula de Batman: Ano Um, mas sem o mesmo resultado).
Tendo sido um marco para os quadrinhos de super-heróis no início dos anos 80, as primeiras histórias de Frank Miller para o Demolidor contribuíram para mostrar aos editores que o público estava pronto e, sobretudo, desejava histórias mais sofisticadas com desenhos mais elaborados. Consideradas hoje um clássico dos quadrinhos de super-heróis, essas histórias foram relançadas no Brasil pela Panini em 2003, sendo recentemente reunidas pela Marvel no volume Daredevil by Frank Miller & Klaus Janson Omnibus HC, um calhamaço de capa dura e 816 páginas, ao preço de $99.99 US. Quando as histórias foram lançadas originalmente, não foi necessária tanta sofisticação editorial: bastaram simples revistinhas em papel-jornal, que custavam apenas cinquenta centavos de dólar e traziam o talento inovador de um jovem desenhista que demoliu velhos padrões dos quadrinhos.
As histórias e os desenhos de Miller, complementados pela arte-final precisa de Klaus Janson, trouxeram uma ambientação e um realismo raros nos quadrinhos de super-heróis. Seus enquadramentos mostrando personagens de corpo inteiro, bem como seus “cortes” rápidos, valorizavam as sequências de ação, evidenciando a influência da narrativa cinematográfica moderna. Suas diversificadas e criativas divisões de página sublinhavam o “clima psicológico” dos roteiros, seguindo a risca os ensinamentos do mestre Will Eisner. E, é claro, há o elemento que conquistou os jovens leitores norte-americanos e brasileiros nos anos 80: a influência do mangá Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima, do qual Miller pegou emprestado não apenas sequências de quadros, mas também samurais, ninjas, katanas, estrelinhas mortais e toda sorte de elementos japoneses. Não é à toa que, após salvar a revista do desaparecimento, Miller apresentou sua principal criação: a personagem Elektra, uma antiga namorada do Demolidor, que se tornara uma sensual assassina ninja.
Com grande atenção aos detalhes e à construção psicológica dos personagens, Miller se fez valer de narrativas paralelas (em que os leitores seguem ao mesmo tempo duas linhas de ação) e também de enquadramentos subjetivos (em cenas desenhadas a partir do ponto de vista de um personagem). Tornou-se célebre a página em que o Demolidor aponta uma arma para o rosto do Mercenário, com a "câmera" se aproximando do olho do vilão nas passagens de quadro, até o momento extremo, quando a sequência é cortada e aparece o dedo do Demolidor puxando o gatilho. O herói não aparece, mas toda a tensão e a carga emocional que envolve a cena estão presentes nos olhos do vilão. Se não bastasse a inovação narrativa, o tema em si era bastante incomum para os comics, pois mostra o protagonista da história fazendo roleta-russa com o assassino de sua amada. Para os padrões dos quadrinhos de super-heróis, algo revolucionário! Miller tocou em temas nunca vistos em histórias da Marvel, tudo com uma abordagem direta. Ele utilizou a vida cotidiana e o pequeno mundo do crime presente nas grandes cidades. Seus heróis eram tão realistas quanto seus vilões: pessoas com problemas comuns, paixões e medos.
Com a qualidade e a boa repercussão alcançada por suas histórias, Miller tornou-se uma espécie de “autor oficial do Demolidor”, e isso mesmo após sua saída da revista Daredevil. Mas para a alegria dos fãs, ele não demoraria muito a retornar às HQs do “homem sem medo” e da enigmática Elektra. Em parceria com o artista Bill Sienkiewicz, Miller criou em 1986 a Graphic Novel do Demolidor e a minissérie Elektra Assassina (obras que inovaram a estética dos quadrinhos de super-heróis, abrindo espaço para HQs com arte pintada). Ao mesmo tempo, ele retomou os roteiros da revista Daredevil, com a ótima série de histórias que ficou conhecida no Brasil como A queda de Murdock (desenhada pelo talentoso David Mazzucchelli). No início dos anos 90, Miller retornaria aos personagens que fizeram sua fama em duas histórias: Elektra Vive, uma graphic novel que demorou mais de cinco anos para ser concluída (gerando uma enorme expectativa entre os leitores, mas não correspondendo no fim) e Demolidor - O Homem Sem Medo, minissérie desenhada por John Romita Jr. (que repete a fórmula de Batman: Ano Um, mas sem o mesmo resultado).
Tendo sido um marco para os quadrinhos de super-heróis no início dos anos 80, as primeiras histórias de Frank Miller para o Demolidor contribuíram para mostrar aos editores que o público estava pronto e, sobretudo, desejava histórias mais sofisticadas com desenhos mais elaborados. Consideradas hoje um clássico dos quadrinhos de super-heróis, essas histórias foram relançadas no Brasil pela Panini em 2003, sendo recentemente reunidas pela Marvel no volume Daredevil by Frank Miller & Klaus Janson Omnibus HC, um calhamaço de capa dura e 816 páginas, ao preço de $99.99 US. Quando as histórias foram lançadas originalmente, não foi necessária tanta sofisticação editorial: bastaram simples revistinhas em papel-jornal, que custavam apenas cinquenta centavos de dólar e traziam o talento inovador de um jovem desenhista que demoliu velhos padrões dos quadrinhos.
6 comentários:
Até hoje me arrependo de não ter conservado a coleção de gibis Superaventuras Marvel, com a saga do Demolidor de Frank Miller. Claro que vieram reimpressões graficamente muito superiores, mas a nostalgia que traz folhear um daqueles pequenos tesouros não tem preço.
Abraços!
Sei bem do que você está falando! Rolou uma nostalgia muito legal aqui quando fui conferir algumas informações para as postagens sobre a história dos X-Men, nas edições em formatinho da Superaventuras Marvel.
Miller é mais conhecido por ter ressuscitado o cavaleiro das trevas, mas a verdade é que já antes o tinah feito com Daredevil.
Gostava de ter lido mais destas estórias do Daredevile scritas pelo Miller tenho de ver se as procuro poisou grande apreciador do trabalhod este autor.
Sobre as influências dos samurais é notório no trabalho de Miller se olharmos para um dos seus primeiros projectos "Ronin" e foi também ele quem decidiu tornar Wolverine num samurai, tornando-oa ssim em uma personagem mais complexa e muito mais interessante.
Abraço
Sim, mas a "revolução" dos comics que Miller iniciou começou mesmo na revista Daredevil. Mas pode deixar que na semana que vem teremos uma postagem sobre O Cavaleiro das Trevas.
As edições de Miller para o Daredevil estão disponíveis em inglês nas coletâneas da Marvel. Talvez você consiga alguma - vale o investimento.
Sobre o Wolverine, já até temos uma postagem aqui no blog sobre a minissérie produzida por Claremont e Miller em 1982.
Sobre Ronin, falarei dele em breve, quando abordar os quadrinhos futuristas de Miller.
Abraço e valeu pela conversa!
Agora é que reparei que o meu comentário anterior tinha muitos erros ortográficos é o que dá escrever à pressa ;)
Fico então à espera do texto sobre Batman, pois posso gostar bastante do Daredevil, mas o meu favorito será sempre o homem morcego.
Entretanto vou vendo outras coisas inclusive o post que falas sobre o wolverine.
Saudações d'além mar!
Pode aguardar então, Loot, que teremos uma postagem sobre O Cavaleiro das Trevas seguida de outra sobre a relação entre Batman e Coringa.
Postar um comentário