31/03/2010

Memórias Póstumas de Brás Cubas (finalizada!).


É com alegria que anuncio que J.B. Melado e eu finalizamos nossa adaptação de Memórias Póstumas de Brás Cubas e já enviamos as páginas para avaliação editora. Ainda falta a ilustração da capa, mas ao ver as 78 páginas do álbum com os desenhos, cores e texto prontos, a sensação é realmente de trabalho concluído. E mais que isso, é a sensação de um trabalho bem feito, com uma narrativa diversificada e desenhos muito gostosos de ver.

Como era a intenção desde o início, o resultado de nosso trabalho não é uma HQ paradidática ou uma transcrição literal da obra de Machado de Assis. Para mim, o que produzimos é um álbum de quadrinhos fiel ao espírito do clássico machadiano, que traz todos os momentos fundamentais da história e que busca a tradução narrativa dos elementos estilísticos do texto machadiano, com sua metalinguagem, sua ironia e sua fluidez.

Assim, completando a sequência de prévias do álbum, publico a versão final da página 49, onde Brás Cubas se encontra com seu amigo de infância Quincas Borba (quem acompanha este blog já pôde ver, em postagens anteriores, a mesma página no lápis, na arte-final e nas cores). Espero que curtam essa pequena amostra do trabalho, e agora é esperar que a adaptação chegue às livrarias, na edição do selo Desiderata da editora Agir do Grupo Ediouro.

28/03/2010

Os Novos X-Men de Grant Morrison (2004).


O futuro é o que vemos nos capítulos finais de Grant Morrison para a New X-Men. Pelo menos uma versão do futuro dos heróis mutantes, imaginada pelo roteirista escocês. Here Comes Tomorrow (publicada nos n°s151-154) começa um tanto enigmática, com frases que sugerem um conflito e os lados nesse conflito, sem explicar exatamente quem é quem. Mas logo tudo fica mais claro e surge um interessante contexto que lembra a HQ “Dias de um futuro esquecido”, se refeita nos moldes da trilogia Matrix. Em meio a tudo, muitas caras novas, mas também alguns rostos conhecidos, apesar de terem se passado 150 anos.

O Fera (cujo nome em inglês também pode ser traduzido como “a besta”) é o grande vilão, à frente de um exército de Noturnos geneticamente alterados. Wolverine, Cassandra Nova e um velho Robô Sentinela são aliados, a humanidade foi quase extinta e o mundo beira o apocalipse final. Para completar, entra em cena a Fênix. E tudo isso num dos melhores trabalhos de Marc Silvestri, responsável pelos desenhos destes quatro capítulos finais. O resultado é uma narrativa empolgante e um visual impressionante que justificam o dinheiro gasto nas HQs e constituem uma boa história de despedida.

A fase de Morrison à frente da New X-Men pode ser definida por algumas características básicas: a busca constante por novas ideias e ângulos de abordagem, bem como por dar aos heróis mutantes caracterização e contextualização atuais. A isso se somam a criação de diversos personagens singulares (como Cassandra Nova, Xorn e Fantomex) e também o destaque dado a coadjuvantes incomuns (como Barnell e Angel). Os pontos altos ficam por conta das histórias E is for Extintion, Riot at Xavier’s e Here Comes Tomorrow, sem falar em tudo que foi desenhado pelo excelente Frank Quitely.

Contudo, há também grandes falhas, a começar pelos desenhos ruins em vários capítulos. A isso se somam alguns roteiros preguiçosos, nos quais a história se arrasta por mais páginas do que deveria, dando a impressão de que não havia muito para ser contado ali. E há ainda os maneirismos de Morrison, como um gosto por diálogos ácidos e o uso de truques emocionais um tanto baratos, como o extermínio de dezesseis milhões de mutantes (que ecoa o extermínio dos seis milhões de judeus pelos nazistas) e o cenário da Nova York devastada por Magneto (que parece querer amplificar os atentados de 11 de Setembro).

Com boas ideias e personagens originais, a longa fase de Morrison à frente dos heróis mutantes talvez tenha tido, na verdade, um único defeito principal: a de ter sido longa demais (afinal muitas páginas e capítulos são completamente dispensáveis). Apesar disso, New X-Men é uma série de super-heróis que vale ser lida. Ao lado dos dois filmes dirigidos por Bryan Singer, essa série foi responsável por consagrar a abordagem mais madura que tem beneficiado os heróis mutantes na última década. Sem falar que sua repercussão lançou as bases para o sucesso da Astonishing X-Men de Joss Whedon e John Cassaday.

(Para saber mais sobre as HQs dos X-Men e os trabalhos de Grant Morrison, clique nos marcadores abaixo.)

21/03/2010

Os Novos X-Men de Grant Morrison (2003-2004).


New X-Men n°142 é outra HQ de super-heróis nada convencional oferecida por Grant Morrison. Afinal, toda a ação se passa no Clube do Inferno, com Ciclope e Wolverine em meio a dançarinas sensuais e tragos de uísque. Os desenhos se sobressaem em relação à ação, embora às vezes o que chame mais atenção sejam os espaços vazios nas páginas ou desenhos que ocupam páginas inteiras, ainda que narrativamente nenhum desses dois recursos se justifique. Críticas à parte, o trabalho de Chris Bachalo e Tim Townsend corresponde ao tratamento visual que se pode esperar de uma revista Marvel de sucesso.

A edição n°143 traz um gigantesco laboratório em forma de cúpula, que guarda estanhos experimentos científicos. Lá, Wolverine e Ciclope, na companhia de Fantomex, enfrentam violões científicos, na busca por segredos envolvendo o projeto Weapon Plus. Já no n°144, bastante conversa no início e uma boa briga no fim colocam o heróis mutantes frente a frente com o supostamente mortífero Weapon XV. Embora em um ou outro ponto os desenhos não sejam narrativamente claros (algo que se repetiu nessas edições de Bachalo e Towsend), as camadas de detalhes e o dinamismo das imagens são o ponto alto da HQ.

Fechando a sequência em quatro partes (e a coletânea Assault on Weapon Plus), o n°145 nos leva a uma estação orbital que, segundo Fantomex, guarda os segredos sobre o passado de Wolverine, enquanto Ciclope serve só de companhia. Mas, embora Wolverine pareça ter descoberto informações importantes sobre seu passado, ao final da HQ os leitores ficam sem descobrir nada acerca disso, ganhando apenas uma explosão que deixa a estação orbital em pedaços. Com isso, os n°s142-145 destacam-se mesmo pelo visual detalhado e por terem dado um pouco mais de destaque a Wolverine.

Na revista seguinte, tem início uma história dividida em cinco partes, intitulada Planet X (que se estende dos n°s146-150, mais tarde reunidos numa coletânea homônima). Ilustrada por Phil Jimenez e Andy Lanning, a história começa num ritmo acelerado, mostrando Ciclope e Fantomex fugindo da explosão na estação orbital. E quando o alarme de emergência e uma ameaça paralela irrompem na Mansão X, Jean Grey sai ao resgate de Wolverine, enquanto Fera e Emma vão à busca de Ciclope e Fantomex. Tudo, porém, faz parte de uma armadilha orquestrada por um “traidor” entre os X-Men.

O primeiro capítulo de Planet X pode ser considerado o inverso das HQs mais fracas escritas por Morrison para os heróis mutantes. Nestas, um roteiro inconsistente e um ritmo arrastado acabam salvos por um desfecho surpreendente. Mas o que acontece em New X-Men n°146 é o contrário, pois um roteiro interessante e dinâmico acaba atrapalhado pelo velho truque de revelar que um dos heróis, e suposto traidor, é na verdade um antigo vilão, dado como morto ou desaparecido. Pois é isso que acontece, quando o mutante Xorn tira seu capacete para revelar ser ninguém menos que Magneto...

E assim, numa só tacada, Morrison eliminou o personagem mais interessante que ele havia criado para a série, além de reforçar que não existe respeito pela morte nas HQs de super-heróis. O capítulo seguinte começa com o triunfo de Magneto sobre Nova York (numa hora dessas por onde andam o Quarteto Fantástico, os Vingadores, o Homem-Aranha...?) e as mal-disfarçadas explicações de como e por que Xorn era Magneto numa máscara (quando um autor precisa justificar demais algo que fez, é porque fez algo de errado!). No mais, New X-Men n°147 não passa de alguns bons desenhos e muita conversa fiada.

A revista seguinte continua a historinha de Magneto, o terrorista soberano de Nova York, mas dá maior destaque à situação no espaço, envolvendo Wolverine e Jean Grey (cujo desfecho é, em certa medida, copiado no filme X-Men: O Confronto Final). Já a n°149 começa com diálogos fraquíssimos, prosseguindo com um enredo que se arrasta pelas páginas. Então, no capítulo final de Planet X, com a intervenção da Fênix e o sacrifício de uma personagem, tudo é simplesmente resolvido (repetindo um defeito de alguns roteiros de Morrison, onde o que parece uma grande ameaça acaba eliminado sem grande esforço).

(CONTINUA)

14/03/2010

Os Novos X-Men de Grant Morrison (2002-2003).


Após um começo bombástico em New X-Men n°s114-116, os roteiros do escocês Grant Morrison perderam um pouco da força e do foco nas edições que se seguiram. Além disso, desenhos de baixa qualidade em vários números prejudicaram a série, embora algumas ideias inventivas e situações interessantes tenham mantido as revistas acima da média dos quadrinhos de super-heróis. (Para mais detalhes sobre o primeiro ano de Morrison à frente dos heróis mutantes da Marvel, clique aqui.)

Em vários sentidos, o início do segundo ano da New X-Men repete os erros e os acertos de antes: os desenhos variam muito de estilo e qualidade, os roteiros trazem boas ideias, mas revelam-se inconsistentes no fim. A primeira dessas edições, New X-Men n°127, traz uma história focada no herói Xorn, sendo uma espécie de fábula moral sobre preconceito e suas consequências para o desenvolvimento da raça humana. Com desenhos de John Paul Leon e arte-final de Bill Sienkiewicz, estilisticamente a HQ é um tanto incomum para uma revista de super-heróis, embora tenha um desfecho bem previsível.

Já nos n°s129-130, os desenhos ficam por conta de Igor Kordey que, mesmo não sendo um desenhista ruim, não era o mais indicado para essa série da Marvel. Ao mesmo tempo, nessa sequência de histórias, Morrison parece ter tido como único propósito apresentar um novo personagem que havia imaginado: o mutante Fantomex (uma versão Matrix de Fantômas, anti-herói francês do início do século 20). O fato é que, salvo uma boa “sacada” em relação ao codinome Arma-X (onde o “xis” é relido enquanto o algarismo romano para o número dez), a HQ não interfere muito na vida dos heróis.

New X-Men n°131, ilustrada por Leon e Sienkiewicz, começa com um funeral em Paris e continua no caso amoroso psíquico-imaginário de Ciclope e Emma Frost. Já a edição seguinte, desenhada por Phil Jimenez e Andy Lanning, leva os leitores de volta a Genosha, ilha-país na qual dezesseis milhões de mutantes foram exterminados. Para a próxima revista, temos uma nova dupla de desenhistas, Ethan Van Sciver e Norm Rapmund, uma nova locação nas areias do Afeganistão e uma nova mutante chamada Dust (Poeira), com direito à primeira participação efetiva de Wolverine nesse segundo ano de Morrison.

Somando até ali sete edições (que seriam reunidas na coletânea New Worlds), o segundo ano de Morrison na série não tinha ido muito além de introduzir novos personagens conceituais, em meio a algumas boas “sacadas”. Felizmente, as coisas melhoram bastante a partir de New X-Men n°134, edição ilustrada por Keron Grant e Norm Rapmund. Com ela, tem início uma sequência de cinco HQs nas quais, pela primeira vez em várias edições, o roteirista parece não atirar para os lados, apresentando uma história mais coerente e interessante (que seria reunida na coletânea Riot at Xavier’s).

Mostrando um motim de jovens alunos da escola do Professor Xavier, as revistas abordam ao mesmo tempo os temas do preconceito contra as minorias e do perigo trazido pelas drogas. Trabalhando bem os personagens secundários, o roteiro deixa os X-Men tradicionais na periferia da ação, embora seu desfecho traga uma cena, envolvendo Scott, Emma e Jean Grey, que tem desdobramentos até as edições atuais dos heróis mutantes. E se o roteiro não decepciona, os desenhos do sempre ótimo Frank Quitely fazem de New X-Men n°s135-138 edições que valem a pena serem lidas e vistas.

A edição n°139 começa do ponto em que Morrison havia encerrado a revista anterior, com Jean Grey descobrindo o caso psíquico entre seu marido e Emma. O restante da edição, ilustrada por Jimenez e Lanning, mostra uma inquisição psíquica em que a Jean-Fênix atormenta uma indefesa Emma. Nada tão drástico, porém, quanto o aparente assassinato da ex-vilã ao final da revista, o que dispara a investigação que será o tema da edição seguinte. E com desenhos nada impressionantes e uma trama bem morninha, a revista n°140 só se salva por uma interessante revelação na última página.

Quanto ao n°141, além de solucionar parte do aparente assassinato, a revista serve apenas para reforçar que a morte é uma condição bastante contornável nas HQs de super-heróis. No saldo geral, essas três edições da série dão a sensação de um roteiro que se arrasta por mais tempo do que deveria e de desenhos bem abaixo do potencial de uma editora como a Marvel. Algo bem diferente é o que vemos nas quatro edições seguintes, intituladas Assault on Weapon Plus (nome também dado à coletânea das revistas New X-Men n°s139-145), ilustradas pelos competentes Chris Bachalo e Tim Townsend.

(CONTINUA)

10/03/2010

Urbanoide trabalhando por um mundo melhor!


Já começou a circular o quarto número de Pratique Gentileza, a série de revistas educativas que estamos produzindo para a Rádio Itatiaia / Fiat / Unimed. A HQ é uma criação minha, com desenhos de Luhan Dias e cores de Cleber Campos. O tema desta nova edição é a gentileza no ambiente de trabalho. Para a capa deste quarto número, a inspiração inicial foi uma famosa cena do filme Tempos Modernos de Charles Chaplin, que ganhou aqui uma versão mais otimista.

Os exemplares da revista serão distribuídos em escolas, universidades e eventos promocionais.

05/03/2010

Dom Casmurro, roteiro (12).


1) CAPITU!
2) Soltamos as mãos depressa, e ficamos atrapalhados.

3) Era o pai de Capitu.
4) NÃO ME ESTRAGUES O REBOCO DO MURO.

5) Pádua saiu ao quintal. Chegou sem cólera, todo meigo, apesar do gesto duvidoso ou menos que duvidoso em que nos apanhou.
6) Era empregado em repartição dependente do ministério da guerra. Não ganhava muito, mas a mulher gastava pouco, e a vida era barata.

7) Capitu foi ter com a mãe, à porta da casa, deixando-nos a mim e ao pai encantados dela.

8) O pai, olhando para ela e para mim, dizia-me, cheio de ternura:
9) QUEM DIRÁ QUE ESTA PEQUENA TEM QUATORZE ANOS? PARECE DEZESSETE.

04/03/2010

Dom Casmurro, roteiro (11).


1) QUE É QUE VOCÊ TEM?
2) É UMA NOTÍCIA.
3) NOTÍCIA DE QUÊ?

4) Nisto olhei para o muro, o lugar em que ela estivera riscando ou escrevendo. Vi uns riscos abertos.

5) Então quis vê-los de perto.
6) Capitu correu adiante e apagou o escrito.

7) Mas antes que ela raspasse o muro, li estes dois nomes, abertos ao prego, e assim dispostos:
BENTO
CAPITOLINA

8) Ficamos a olhar um para o outro...

9) Em verdade, não falamos nada...
10) ...o muro falou por nós.

11) Padre futuro, estava assim diante dela como de um altar. Faltava dizer a missa nova, por um latim que ninguém aprende, e é a língua universal dos homens.

03/03/2010

Dom Casmurro, roteiro (10).


1) De repente…
2) CAPITU!
3) MAMÃE!
4) DEIXA DE ESTAR ESBURACANDO O MURO; VEM CÁ.

5) As pernas desceram-me os três degraus que davam para a chácara e caminharam para o quintal vizinho.

6) Capitu estava ao pé do muro fronteiro, voltada para ele, riscando com um prego.
7) Ao dar comigo, encostou-se ao muro, como se quisesse esconder alguma coisa.

8) Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca fora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos...

02/03/2010

Dom Casmurro, roteiro (9).


PARTE 4: CAPITU

1) Deixei o esconderijo, e corri à varanda do fundo. Vozes confusas repetiam o discurso do José Dias:
2) "SEMPRE JUNTOS..."
3) "EM SEGREDINHOS..."
4) "SE ELES PEGAM DE NAMORO..."

5) Ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora.
6) Uma sensação nova me envolvia em mim mesmo, e logo me dispersava, e me trazia arrepios, e me derramava não sei que bálsamo interior.

7) Eu amava Capitu, e Capitu a mim?

8) Andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto.
9) Pois, francamente, só agora entendia fenômeno recente de acordar com o pensamento em Capitu, e escutá-la de memória, e estremecer quando lhe ouvia os passos. Tudo me era agora apresentado pela boca de José Dias, que me denunciara a mim mesmo.

10) Eu amava Capitu! Capitu amava-me!

01/03/2010

Dom Casmurro, roteiro (8).


1) SE SOUBESSE, NÃO TERIA FALADO, MAS FALEI PELA VENERAÇÃO, PELA ESTIMA, PELO AFETO, PARA CUMPRIR UM DEVER AMARGO, UM DEVER AMARÍSSIMO...
2) José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as frases.

3) Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica.
4) Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo.
5) Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio de Janeiro com a família, ele veio também.
6) Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo.